“Será que aproveitaremos esse momento de
crise, quando se rasgaram as máscaras e se desnudaram os hipócritas e os falsos
moralistas, para fazermos finalmente uma reforma política por intermédio da
qual se resgate a dignidade na política?
Lula Miranda, Brasil 247
Vivemos,
nos dias que correm, uma espécie de “operação mãos limpas” na política
brasileira? José Serra, Geraldo Alckmin e Andrea Matarazzo, quadros
fundamentais do PSDB de SP, passarão pela mesma expiação dos seus pecados e
pelo mesmo linchamento público porque passaram José Dirceu, Delúbio Soares e
José Genoíno, quadros fundamentais do PT? Passarão? Ou os pecados de uns são
mais venais que os de outros? Uns são mais corruptos que outros? Uns são mais
“quadrilheiros” que outros? Está posta em xeque a Justiça no Brasil. Está posto
em xeque o jornalismo no Brasil.
Tommaso
Buscetta, você deve se lembrar desse episódio de nossa história contemporânea,
foi o primeiro grande capo da máfia a romper o código de silêncio que vigia
entre os gângsteres: a omertà. Buscetta nos remete, inevitavelmente, ao
dedicado, arriscado e solitário trabalho dos juízes Paolo Borsellino e Giovanni
Falcone, que entraram para a história como os magistrados que passaram a Itália
a limpo, quando investigaram, e condenaram à prisão, centenas de
parlamentares, empresários, servidores públicos e jornalistas.
Na
Itália, assim como no Brasil de hoje, desgraçadamente, as editorias de política
dos jornais e revistas se misturavam, e se confundiam, com as páginas de
polícia.
Roberto
Jefferson era, desde o governo FHC, uma espécie de “capo” da política
brasileira. Ocioso desnudarmos aqui as suas “vergonhas”, seus instintos mais
“primevos”, seus “pecados” e inteligência a serviço do que há de pior na
política. De repente, como que num “milagre”, Jefferson tornou-se um “santo”,
um “herói” de ópera-bufa, para a grande imprensa brasileira, quando
denunciou algo que viria a se tornar um suposto esquema de compra de
parlamentares, o chamado “mensalão”. Na verdade, o que Jefferson denunciara era
um esquema de financiamento da política, via Caixa 2, que é utilizado
desde sempre pelos políticos e governantes brasileiros. Desde sempre. O
resto, sabe-se hoje, é história.
Agora,
vem à tona um esquema milionário, também de caixa 2, e – ainda a se investigar
e comprovar – de corrupção e enriquecimento ilícito de
grãos-tucanos de São Paulo. Mas o esquema atinge também Arruda do DEM e outros
tantos políticos. Pois, como já disse aqui, inúmeras e reiteradas vezes, esse
modo de se financiar a política não é monopólio do PSDB, do PT, do DEM, do
PMDB, do PP ou do PTB; é de todos os partidos.
Será
que aproveitaremos esse momento de crise, quando se rasgaram as máscaras e se
desnudaram os hipócritas e os falsos moralistas, para fazermos finalmente uma
reforma política por intermédio da qual se resgate a dignidade na política? Ou
será que perderemos mais essa valiosa oportunidade e continuaremos nesse
joguete de intrigas mascarando a realidade de acordo com interesses de ocasião?
Já
disse em artigos anteriores e repito neste: o mesmo pau que dá em Zé tem que
dar em José também.
Os
mesmos juízes – nas Cortes, mas também nos lares brasileiros e nas Redações –
que condenaram José Dirceu como “corrupto” e “chefe de quadrilha” [sic], os
“magnânimos” e “justos” detentores e defensores da capciosa tese do “domínio do
fato”, esses juízes devem agora também condenar José Serra. Ou não?”
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