Além de MPL, 16
entidades assinam denúncia. Episódio pontual abre discussão sobre doutrina da
PM
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O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), o secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, e o
tenente-coronel Ben-Hur Junqueira serão denunciados hoje (29) na Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão por terem deliberadamente coordenado ações
violentas durante a manifestação do dia 13 de junho, que pedia a redução
das tarifas de transporte público na cidade de São Paulo. A ação é encabeçada
por movimentos sociais, entre eles o Passe Livre (MPL), que estava à frente dos
protestos.
As entidades consideram que a repressão a
centenas de manifestantes foi um fato político decidido pelo próprio governador,
classificado por elas como “chefe de quadrilha”.
A denúncia baseia-se em declarações dadas
antes da manifestação, quando disseram que não iriam permitir que o ato
chegasse à Avenida Paulista, e falas posteriores deixando claro que tinham o
controle sobre o uso da força dos policiais.
Em outra ação, o tenente-coronel Ben-Hur
também será denunciado criminalmente na Procuradoria-Geral do Estado por ser o
responsável direto por centenas de prisões consideradas ilegais. Na ocasião,
mais de 200 pessoas foram detidas por portar tinta, vinagre ou simplesmente se
parecer com manifestantes.
Durante coletiva realizada no final da
manhã, representantes do Mães de Maio, Coletivo Dar, Comitê Contra o Genocídio
da Juventude Preta e Pobre e Periférica, Intervozes, Marcha Mundial das
Mulheres e do MPL afirmaram que, apesar de a ação tratar de um evento
específico, a ideia é questionar toda a estrutura da Polícia Militar.
“A gente está fazendo ação agora, mas a
violência que estamos denunciando não é uma exceção. Na verdade, é da própria
lógica de repressão da polícia. A gente está usando este momento de
visibilidade para dizer que as nossas vítimas, os nossos presos estão aí
irmanados com todas as vítimas, com todos os presos da Polícia Militar. Estamos
usando essa visibilidade que foi propiciada pelos atos de junho, pela força da
população que arrancou uma vitória do poder público para tentar arrancar uma
outra vitória: um amplo e aberto debate sobre qual é a lógica de funcionamento
da polícia, qual é a lógica de funcionamento da justiça, a quem eles estão
privilegiando”, explicou a militante do MPL Monique Félix.
“A polícia trata a população como inimigo a
ser combatido. Seja na desapropriação, seja na manifestação. Essa é uma conduta
gravíssima do Estado brasileiro de tratar o cidadão como inimigo a ser
combatido, e não como uma sociedade a ser defendida. Essa ação abre o debate na
sociedade de maneira contundente. As pessoas portavam tinta porque queriam se
manifestar e portavam vinagre porque sabiam que seriam reprimidas”, afirmou o
coordenador do Intervozes, Pedro Ekman, que lembrou as violações ao direito de
expressão em função das agressões dirigidas a jornalistas e comunicadores.
Douglas Belchior, do Comitê contra o
Genocídio, lembrou a diferença de tratamento dado a esse episódio e a outros
casos de violência cotidiana. “Em qualquer lugar do mundo, as provas que nós
temos de chacinas, grupos de extermínio, declarações de PMs seria suficiente. Por
que em São Paulo
isso não é suficiente? Que muro, que grade, que resistência é essa que protege
os assassinos e nos condena permanentemente?”, perguntou.
Em nenhuma das duas ações há pedido de
indenização. Os militantes querem apenas o reconhecimento de que houve abuso e
de que Alckmin e seus subalternos são os responsáveis por eles.
As ações serão analisadas pelo
procurador-geral do Estado, Márcio Fernando Elias Rosa, e pela Procuradoria
Federal de Direitos do Cidadão. Caso essas duas instâncias considerem que há
provas suficientes, processos judiciais têm de ser aberto em até 48 horas. Caso
considerem que as denúncias não são suficientes, a ação será encaminhada ao
Ministério Público, que terá de realizar a investigação. “Acho que esta ação é
mais uma para derrubar mais uma catraca da cidade militarizada, catracalizada,
aprisionada, encarcerada e cercada pelos interesses especulativos do capital”,
afirmou Danilo Dara, do Mães de Maio.”
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