Dilma encontrou
resistência até no próprio
partido / Fabio
Rodrigues Pozzebom/ABr
|
“Eleita em ambiente político viciado, a
presidenta tentou mudar costumes, mas acabou cedendo diante da resistência de
aliados e do próprio PT. Grave agora é não voltar atrás
Os aliados reclamam por ela não fazer política. Os
adversários criticam por fazer política demais. Ela sofre restrições na base
governista, onde se diz que a presidenta não gosta do partido dela, o PT, e
menos ainda dos coligados: um amontoado de 14 legendas unidas por todos os
tipos de interesses. Inclusive os legítimos.
Condenada pelos oposicionistas por contar com 39
ministérios para atender partidários, vê repentinamente o PMDB, cujo maior
líder é o vice-presidente da República, Michel Temer, propor a redução do
número de ministros para atender o que pensa ser a voz das ruas. Um jogo de
cena explicável. Estava escrito. Os dois maiores partidos da base governista,
PMDB e PT, entrariam em choque em busca da maioria na Câmara na eleição de
2014.
Há erros e acertos nessas versões criadas a partir de
verdades e mentiras que cercam o modelo de Dilma Rousseff governar após dois
anos e meio de poder. Duas palavras podem compor o lema dela: seriedade e
inexperiência. Ela paga por ambas. Por essas e outras razões vem sendo tragada
pelo próprio ambiente que a elegeu. Essa moldura se consolidou no momento em
que as manifestações deixaram de ser virtuais.
Nos últimos dias, a presidenta aplicou um “sossega
leão” nos aliados. Liberou 2 bilhões de reais do Orçamento para senadores e
deputados. Com isso, espera manter vetos feitos à supressão de 10% de multa
sobre o FGTS na demissão sem justa causa de trabalhadores. Há, ainda, a MP do
“Mais Médicos” e a questão dos royalties do petróleo.
Dilma sempre fez política. No começo, contra a
ditadura. Perdeu. De volta, filiou-se ao PDT de Brizola. Migrou para o PT, pelo
qual disputou a Presidência. Ganhou. Apesar da autoridade do criador, Lula, a
criatura não desceu redonda pela goela dos aliados. Em alguns momentos, ela
tentou mudar o rumo das coisas. Ora negociou, ora impôs. Ora contida, ora
agressiva.
Ao fim, o saldo neste momento não é bom. Eleita em uma
disputa na qual teve de escamotear convicções, como no caso do aborto, foi
mudada em vez de mudar.
Logo nos primeiros meses de governo afastou ministros
acusados de “malfeitos”, para usar uma expressão cara à presidenta. Os
atingidos engoliram a seco.
A queda na popularidade, no ponto em que a economia
está, enfraqueceu a autoridade dela perante aliados rebeldes de setores
petistas.
Olhando com lupa é possível ver a diferença numérica
na ascensão e na queda dela. Dilma obteve 48% dos votos nominais no primeiro
turno da eleição de 2010. Chegou a ter, no ápice do sucesso, uma avaliação de
65% de “ótimo e bom”. Isso significa que, ao longo do governo, ganhou 17 pontos
a mais do que teve na eleição. Na queda, perdeu 18 pontos do primeiro turno e
mais 17 pontos que tinha conquistado no segundo, quando alcançou 58% dos votos
válidos.
No balanço de prós e contras, neste
momento, ela perde o confronto. Cercada, ela cedeu. Agora defende o modelo que
nasceu da sua entrega. A insistência, no caso, é fatal.”
Comentários