Cadê os Amarildos?


Um trabalhador que some ao ser abordado por policiais revela que a política de segurança pública do Rio não é o sucesso que se apregoa

Leonardo Attuch, Brasil 247

“Cadê o Amarildo, Cabral?”

“Cadê o Amarildo, Beltrame?”

Do Rio, a pergunta incômoda ganhou o mundo e foi estampada em dois jornais ingleses. “Where is Amarildo?”, perguntaram o Financial Times e o Independent, em reportagens publicadas neste fim de semana sobre o trabalhador – um pedreiro – que sumiu ao ser abordado por policiais na Rocinha, há duas semanas.

O que aconteceu com ele? Provavelmente, teve o mesmo destino de outras cinco mil pessoas assassinadas por policiais nos últimos cinco anos, em autos de resistência nas favelas. É dessa maneira, em suposto confronto com a polícia, que morrem os Amarildos.

Como em geral são pobres, pretos e favelados, passam por bandidos no Rio de Janeiro “pacificado”.

A reação ao sumiço de Amarildo de Souza, no entanto, foi diferente. Ganhou o mundo e colocou em xeque a política que vinha sendo apontada como a “vitrine” do atual governador do Rio Janeiro, Sergio Cabral. Atingido pelas estripulias aéreas, Cabral desmoronou e com ele também ruiu a imagem das suas Unidades de Polícia Pacificadoras, como a UPP da Rocinha, onde Amarildo foi abordado antes de desaparecer.

Em outra favela, no Morro do Alemão, o ativista José Júnior, do Afroreggae, está jurado de morte. Nos gabinetes oficiais, a crise também está instalada desde que o secretário José Mariano Beltrame decidiu exonerar, nesta segunda, o chefe da Polícia Militar, Erir Ribeiro da Costa Filho. O motivo: discordâncias relacionadas a anistias concedidas por Erir a sua tropa. Antes mesmo da demissão, Erir já vinha demonstrando desconforto diante das manifestações que cercavam a casa do governador Cabral, no Leblon.

Com o sumiço de Amarildo e a demissão de Erir, a crise do Rio entra num novo - e mais perigoso - capítulo. A morte do trabalhador afeta ainda mais a imagem de Cabral e, com a saída do chefe da PM, o governador e o secretário Beltrame também perdem apoio na tropa. Uma combinação explosiva.”

Comentários