Joaquim Barbosa
foi uma das estrelas das
últimas pesquisas
e nem sequer partido
têm / Valter
Campanato/ABr |
“Em meio ao desprezo pelos políticos,
emergem estrelas como Marina Silva e Joaquim Barbosa, que nem sequer partido
têm. Mas os candidatos "não políticos" costumam ser preteridos nas
urnas
Constitui
verdade acaciana afirmar que é ruim a imagem dos políticos no Brasil. Até as
criancinhas do grupo o sabem e, aliás, compartilham a opinião. Não é
idiossincrasia nossa, tampouco decorre de alguma peculiaridade da evolução
política brasileira. Mundo afora o mesmo ocorre em países ricos e pobres, de
democracia mais ou menos consolidada. Os políticos andam em baixa em todos os
lugares.
Mas o fenômeno assume aqui feições características. Passamos
20, dos últimos 50 anos, sob uma ditadura, que se instaurou com o pretexto de
extirpar a corrupção e a subversão. Seus alvos imediatos foram os partidos e as
lideranças políticas, acusadas de uma ou outra. Os generais se fantasiavam de
os mais honestos e respeitadores das leis, e melhores como administradores. Durante
o autoritarismo, político era quase sinônimo de corrupto e incompetente.
Mesmo que já tenham
transcorrido três décadas desde a redemocratização, os ecos daquele período
ainda estão vivos. Uma parte ponderável de nossa sociedade foi formada em uma
cultura que olhava com repúdio aqueles que se dedicavam à política. Muitos
entre os mais jovens aprenderam com seus pais a desconfiar deles e a
menosprezá-los.
Em junho, nas manifestações de rua da classe média
conservadora, os bordões que se ouviam expressavam tais sentimentos. É claro
que são muitos os exemplos de políticos que só pensam em ganhar dinheiro
ilicitamente, locupletar-se e se eternizar no poder. Assim como são inúmeros os
casos de incompetência. O problema brasileiro é, no entanto, maior que no resto
do mundo? Terá se agravado recentemente?
Pelo
que se conhece da experiência internacional e de nossa trajetória, parece que
nem uma coisa nem outra. Tivemos, por exemplo, um presidente que sofreu impeachment,
mas o mesmo aconteceu nos Estados Unidos. Nossos partidos foram acusados de se
financiar de maneira irregular, algo, porém, que volta e meia ocorre em
democracias maduras, como a Alemanha e a França. E nem temos famílias reais que
traficam influência, como a Espanha e a Holanda.
Dizer que a corrupção e a incompetência dos políticos
brasileiros aumentaram nos últimos anos é simples ignorância ou ação política
deliberada. Ao contrário do que pensa o cidadão pouco informado, os mecanismos
de controle do uso dos recursos públicos são mais eficazes hoje que no passado
e são melhores as safras mais recentes de administradores em municípios,
estados e União. Ao contrário de ter piorado, avançamos nesse aspecto.
Então, o que ocorre? Por que a grita contra “os
políticos”? Por que diminui a aprovação de prefeitos, governadores e da
presidenta? Por que sobem nas pesquisas de intenção de voto para a próxima
eleição presidencial apenas os candidatos não políticos e caem os candidatos de
verdade? Por que as estrelas das últimas pesquisas foram Marina Silva e Joaquim
Barbosa, que nem sequer partido têm?
Nossa
vida política é curiosa. No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, o
País ficou em sobressalto permanente: uma crise cambial aguda, trocas
atabalhoadas de presidentes do Banco Central, denúncias de que autoridades
econômicas passaram informações a bancos particulares, a ameaça de um
calamitoso apagão elétrico, a inflação voltando a ser voraz. Tudo em um governo
suspeito de ter comprado votos na Câmara dos Deputados para conseguir
permanecer no poder.
Onde estava a “grande
mídia”? O que escreveram os colunistas que hoje se proclamam indignados? Onde
estavam os ministros da Suprema Corte? E a Procuradoria-Geral da República? E a
classe média “manifestante”?
Quietos e calados.
No fundo, tudo o que querem, desde quando
começaram a gritar de um ano para cá, é derrotar o “lulopetismo”. Mas não sabem
dosar a munição. Atingem o conjunto do sistema político e abrem o caminho para
aventuras de alto risco. Resta-nos lembrar que a maioria do eleitorado brasileiro
até finge que vota em gente que não é do ramo. Quem não se recorda da dianteira
de Celso Russomanno na eleição municipal de São Paulo, em 2012? Ou de Ratinho
Junior em Curitiba? Mas quem foi que ganhou nas duas cidades?
Na hora de escolher alguém
para um cargo executivo importante, o eleitor pensa com seriedade. A menos que
o impeçam, é o que fará em 2014.”
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