“A presidente Dilma Rousseff registrou enorme perda de intenções de votos em um mês – de 52,8% para 33,4% no primeiro turno, num cenário em que disputaria com os candidatos Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) –, segundo a 114ª Pesquisa CNR/DMA divulgada hoje (16). Uma variação eleitoral tão abrupta deve ser atribuída ao efeito contágio das manifestações que ocuparam as ruas do país e as redes sociais no período. Todavia, se forem considerados os indicadores de expectativas dos entrevistados para os próximos seis meses da 113ª Pesquisa (de junho de 2012) e da atual, é possível chegar à conclusão de que a corrosão das expectativas era parte de um processo que antecedeu as manifestações, e podem ajudar a entender a razão de manifestações com reivindicações tão difusas e variadas terem adquirido uma força de contágio tão rápida e tão grande.
As últimas três pesquisas CNT/DMA trazem duas questões conjunturais para medir as expectativas dos entrevistados em relação ao país – o que as pessoas acham que vai acontecer, nos próximos seis meses, com seus empregos e renda – e três questões relativas à gestão de serviços públicos. Em julho de 2012, 54,1% dos entrevistados achavam que a situação do emprego do país iria melhorar nos seis meses seguintes e 49% achavam que sua renda mensal iria aumentar no mesmo período. Em junho, a 113ª pesquisa registrou uma queda significativa nessas duas expectativas: 39,6%, ou seja, 14,5 pontos percentuais a menos, acreditavam que o emprego iria melhorar, e 35,8% (13,2 pontos percentuais a menos) passaram a acreditar numa melhora de renda nos seis meses seguintes. Quase todos os pontos percentuais perdidos entre os que achavam que os empregos iam melhorar foram ganhos para a resposta dos que consideravam que tudo ficaria a mesma coisa.
No caso dos serviços públicos, em julho do ano passado 43,7% consideraram que a Saúde melhoraria nos seis meses seguintes. No mês passado, esse índice havia caído para 26,2%. Os 39,7% que consideravam que o serviço público continuaria a mesma coisa no ano passado subiram para 45,5% em junho deste ano; e os 14,3% que consideraram que, no ano passado, a Saúde pioraria nos seis meses seguintes, já eram 25,7% no mês passado.
Na pesquisa do ano passado, 47,2% tinham a expectativa de que a Educação melhoraria nos seis meses seguintes; no mês passado, apenas 33,1% manifestaram essa esperança. Na Segurança Pública, os 39,1% que tinham expectativa de melhora, em 2012, caíram para 29,1%.
Na pesquisa de julho, divulgada hoje (16), e realizada já sob o impacto das manifestações de rua, há uma acentuação da tendência de deterioração das expectativas referentes à conjuntura (emprego e renda) já registrada na pesquisa do mês passado, mas curiosamente melhoraram as expectativas em relação à melhora de qualidade dos serviços de Saúde e educação.
Dos entrevistados, 32% consideraram que a questão do emprego iria melhorar nos próximos seis meses – 7,6 pontos percentuais a menos que a pesquisa realizada em junho; 29,6% passaram a acreditar que a sua renda iria aumentar no mesmo período (contra 35,8% registrados na pesquisa do mês anterior). O índice dos que consideram que a Saúde vai melhorar, todavia, aumentou de 26,2% da pesquisa anterior, para 31,5% da pesquisa atual; e os que consideram que a educação vai melhorar correspondem a 34,7% dos entrevistados, 1,6 ponto percentual a mais do que o registrado no mês passado.
Pela queda na popularidade e na avaliação de governo de Dilma – a avaliação do governo caiu de 54,2% para 31,3% em um mês, e a aprovação de Dilma despencou de 73,7% para 49,3% no período – é de se supor que as expectativas em relação à conjuntura, que se reduziram, estão na relação direta da confiança dos entrevistados na presidente e no governo. A expectativa maior em relação à Saúde e educação podem ser atribuídas aos efeitos positivos que essas pessoas podem atribuir às manifestações – 84,3% dos entrevistados aprovam as manifestações, embora apenas 11,9% tenham declarado que participaram delas e 29,6% tenham intenção de participar (mais da metade, 58%, disseram que não participariam). Segurança Pública não entra nessa conta porque, no imaginário popular, é vista como uma questão tão complexa que dificilmente se enquadraria nas questões que possam ser resolvidas pela pressão das ruas.”
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