Rafucko
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“O comediante Rafucko conseguiu se tornar uma espécie de símbolo das recentes manifestações no Rio de Janeiro, especialmente as que ocorrem diariamente em frente ao apartamento do governador Sergio Cabral, no Leblon. No último dia 17, Rafucko filmou sua detenção por parte da Polícia Militar. Ele foi abordado junto com desconhecidos e levado à delegacia.
Rafucko teve o cuidado de registrar tudo, meticulosamente, com sua câmera. Postou esse vídeo e, em seguida, outro, em que dá um depoimento contando sua aventura. O primeiro se chama “PMRJ Vândala”; o segundo, “Rafucko relata abuso policial”.
Não há dúvida de que a polícia é despreparada e violenta. As pedras portuguesas do calçadão sabem disso. A polícia é a polícia. Mas Rafucko foi “esperto” ao transformar as ruas em um cenário de sua comédia. Talvez porque não leve, na verdade, a sério.
Rafucko é um tipo de “revolucionário”, digamos, descomprometido. Não é o único. No primeiro vídeo, ouvem-se vozes de garotas falando, entre risadas: “Joga gás pimenta aqui!” É como se torcessem para que os soldados chegassem duro. Quando eles aparecem, Rafucko não pensa em parar de filmar. Numa situação mais dramática, que envolvesse grande risco, quem cogitaria em deixar a câmera ligada, estando com a cara no chão, a polícia fascista na cola?
Em sua página no Facebook, pessoas se solidarizam. O caso saiu nos jornais. No Globo de hoje, Caetano Veloso, escrevendo sobre os protestos, faz-lhe uma menção. “Ao lado das imagens corriam posts curtos com perguntas, encorajamentos e observações. ‘Bombinha de São João. Nada comparado às bombas deles’. Uma moça se aproxima e diz, emocionada: “prenderam o Rafuco”. Ao que o câmera e seus próximos reagem com preocupação. Logo vejo nos posts que o nome se escreve Rafucko: todas as pessoas que postam o conhecem. Uma se oferece para consolá-lo. Imagino que seja o Cohn-Bendit de 2013”.
Há uma ironia na comparação com Daniel Cohn-Bendit, o líder estudantil francês do maio de 68. Rafucko é apenas, em suas palavras, “um radialista e videomaker carioca, escritor, editor, diretor, fotógrafo, VJ, twitteiro, faz figuração e passa roupas em casa ou a domicílio”.
Ele vai continuar espalhando cascas de banana no chão, na frente do Batalhão de Choque, porque sabe que vai render boas cenas. Se tomar uma dura, denuncia o fascismo e pede para compartilharem seu relato. Não há tanto risco, na Zona Sul do Rio, de acontecer o mesmo que acontece na Favela da Maré. Lá a vida é mais dura e as piadas de Rafucko não têm tanta graça assim.
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