O jogo de blefes da direita


Fernando Brito, Tijolaço

“Eu estou dando à família uns dias que venho negando há dois meses sem folga, mas política e jornalismo são uma cachaça que a gente não larga nem assim.

E não posso ficar quietinho com essa história das pesquisas que os jornais de hoje divulgam.

A primeira é o “volta, Lula” que a imprensa vem abanando, embora não haja nenhuma declaração do ex-presidente admitindo que esteja disposto a retornar ao cargo.

Vocês vejam que coisa: há dois anos, a imprensa apresentava Dilma como uma gestora que ia “limpar a podridão política de fisiologismo” deixada por Lula no Governo. Era a tal “faxina”, saudada em prosa e verso pelos jornais e pelos comentaristas políticos mais reacionários.

Com a proverbial ajuda da Polícia Federal, que descobre o que existe e também o que não existe, quando isso interessa – o que não é o caso, por exemplo, dos autores do boato do Bolsa-Família – o Governo Dilma ajudou a mostrar uma administração pública onde os desvios éticos, os “malfeitos” ou – como eu, menos “politicamente correto”, prefiro chamar: a ladroagem – eram a principal marca.

Ora, corrupção em governo existe desde que surgiu o primeiro governo da história. Aliás, nem precisa ser em governo, está aí Judas Iscariotes para prova-lo. O velho Brizola dizia que Jesus, que era Deus, errou ao escolher 12, que dirá nós, pobres mortais, quando temos de escolher centenas ou milhares de comissionados?

Mas os “teóricos da marquetagem” acharam isso o máximo, como se a austeridade e o rigor de Dilma, suas características pessoais há décadas, precisassem ser abanados pela mídia para se fixarem na opinião pública.

Austero não faz propaganda de sua austeridade; a pratica.

Agora, Dilma seria a fraca, a inepta politicamente, a desarticulada, a tecnocrata fria, que não saberia praticar o jogo de cintura tão necessário à politica. E Lula, o ex-”leniente com a corrupção”, o grande remédio que surge, forte e impávido colosso, com seu favoritismo inabalável na sucessão presidencial.

A outra “grande força” é Marina Silva, com seu ar de franciscana simplória, sempre disposta a remar a favor da corrente e nunca capaz de denunciar o modelo colonial que é imposto de fora para dentro ao Brasil, com a ajuda de uma sub-elite mentalmente colonizada. Colonizada,  inclusive nas modalidades “emo” e “black blocks”, copiando descaradamente até mesmo os “out-siders” do mundo rico e desenvolvido.

Marina seria a tradução da “voz das ruas”, dona de uma “pureza ideológica” capaz de dar ao país o onirismo que uma classe média desligada da dura vida do povão imagina como sendo o Éden, onde não há pecado e, sobretudo, onde presa e predador podem conviver harmonicamente, sem que os mais fracos sejam devorados  pela voracidade dos fortes. E os fortes, nas coletividades humanas, são os ricos, que não precisam de governo senão para preservar seus privilégios.

Meus caros e raros leitores – divirjo aí do meu amigo e predecessor no comentários, Miguel do Rosário – as pesquisas jogam um jogo onde há cartas e há blefes. Nos levam a caminhos de precipitação que tornam sólidas sensações que são fluidas.

O fato real é que a direita está mal de candidatos próprios. Aécio Neves jamais se viabilizou completamente e tanto é assim que Serra já arreganha os dentes pelo lugar que há década e meia é o seu.

A direita quase nunca pode mostrar sua cara sem mascarar-se. Veste-se de Eduardo Gomes, Carlos Lacerda, Fernando Collor ou Marina Silva conforme lhe convém.

Apresenta-se como o novo, mas é o velho, o retrógrado e, sobretudo, a impiedosa máquina de espremer as ilusões dos ambiciosos que se prestam, como laranjas, a serem espremidos para servirem-na do caldo que impeça que as lutas históricas do povo brasileiro transformem este país.

Depois, reduzem-os a bagaços imprestáveis, lixo de seus próprios apetites.

Aqui, no hotel-fazenda onde brigo para conseguir uma conexão entra-e-sai de internet, os meninos me ouviam contar “causos”, perguntaram-me se eu era professor de História.

Falei que não, que era apenas velho. E que velho é como aquele quartinho onde a gente joga as coisas que pensa que nunca mais vão servir para nada.

Mas, que na hora em que precisa de algo que não há à mão, vai lá ver se encontra o que lhe sirva nas horas de aperto.”

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