Dilma: apoio empresarial e 100 mil vagas no Caged


Antes do encontro com o papa, nesta segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff recebe no Planalto os presidentes da BRF, Abilio Diniz, e da Vale, Murilo Ferreira, que podem confirmar novos investimentos no País; além disso, expectativa para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é de abertura de quase 100 mil vagas em junho, segundo economistas; para Chico Lopes, ex-presidente do Banco Central, dados mostram que o PIB deve crescer 4% ao ano e o pessimismo "obsessivo" pode contaminar as expectativas


O momento é favorável à oferta de empregos no Brasil. Nesta segunda-feira 22, antes de se encontrar com o papa Francisco no Rio de Janeiro, a presidente Dilma Rousseff recebe no Palácio do Planalto o apoio de dois grandes empresários brasileiros: o diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, e o presidente dos Conselhos Administrativos dos grupos Pão de Açúcar e BRF, Abilio Diniz. Das reuniões, podem sair promessas de investimentos no Brasil, que consequentemente irão gerar novos empregos.

Além disso, a expectativa para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em junho confirma o bom momento de oferta de vagas. Economistas esperam que, no período, houve abertura de quase 100 mil novos postos de trabalho formais – com carteira assinada. O número será divulgado oficialmente nesta semana pelo Ministério do Trabalho. Na última quinta-feira 18, o ministro Manoel Dias confirmou as expectativas ao declarar que foram criados mais de 100 mil empregos no mês passado.

PIB a 4% ao ano

Contrariando as previsões negativas de muitos analistas, o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes anunciou essa semana que espera que o crescimento econômico brasileiro fique em 4% ao ano. Economista PhD por Harvard, Chico Lopes afirma que a previsão é "apenas a constatação de um fato". Os números publicados para o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR), considerado uma espécie de prévia do PIB, "indicam claramente que no segundo trimestre de 2013 a economia brasileira estava crescendo a ritmo de 4% ao ano". Houve queda de 1,4% do indicador entre abril e maio, mas Lopes argumenta que, na verdade, os dados sugerem aceleração da economia.

Mas então por que esses números repercutiram de forma tão negativa na imprensa, que deu manchetes sugerindo que o País estava novamente a caminho da recessão? Chico Lopes dá seu palpite: "a mídia especializada e a grande maioria dos analistas da economia parecem sofrer atualmente de um pessimismo obsessivo". Ele faz ainda uma conclusão interessante: "a leitura que foi feita dos números do BC configura um caso clássico do que a psicologia cognitiva denomina de viés de confirmação (confirmation bias), que ocorre quando as pessoas só são sensibilizadas por informações que pareçam confirmar suas crenças ou hipóteses, ignorando qualquer evidência em sentido contrário".

As declarações de Chico Lopes foram feitas num artigo publicado na quarta-feira 17 no Valor Econômico, pelo qual ele também afirma que "ninguém pode razoavelmente desejar que o pessimismo de hoje venha a afetar negativamente decisões empresariais de produzir e investir, comprometendo nosso crescimento futuro". Leia abaixo:

O PIB cresce 4% ao ano

 
É no mínimo temerário extrair qualquer sinal de direção de movimento com base na observação de um único mês

O título deste texto não é uma piada, nem uma projeção, nem mesmo a expressão de um desejo. É apenas a constatação de um fato: os últimos números publicados para o Índice de Atividade do Banco Central, o IBC-BR, que pode ser considerado uma aproximação em base mensal para o PIB trimestral do IBGE, indicam claramente que no segundo trimestre de 2013 a economia brasileira estava crescendo ao ritmo de 4% ao ano.


Mas espere um momento! Não foram esses números que repercutiram de forma tão negativa na imprensa, sugerindo até que estamos novamente a caminho da recessão? Basta olhar os títulos de algumas das matérias publicadas: Indicador do BC mostra país na rota da recessão; Economia tem maior retração desde 2008; Cada vez mais difícil decolar; Bancos oficiais já prevêem crescimento abaixo de 2%; IBC-BR reforça sinais da lenta perda de gás da economia em 2013; Pibinho de inverno.

Na realidade, a única coisa que fica clara aqui é que a mídia especializada e a grande maioria dos analistas da economia parecem sofrer atualmente de um pessimismo obsessivo. De fato a leitura que foi feita dos números do BC configura um caso clássico do que a psicologia cognitiva denomina de viés de confirmação (confirmation bias), que ocorre quando as pessoas só são sensibilizadas por informações que pareçam confirmar suas crenças ou hipóteses, ignorando qualquer evidência em sentido contrário.

Todo esse pessimismo foi produzido apenas pela observação de que a variação percentual de maio sobre abril do IBC-BR com ajuste sazonal foi de menos 1,4%. Acontece, porém, que essa série de variação mensal tem muito ruído. É no mínimo temerário extrair qualquer sinal de direção de movimento com base na observação de um único mês. Além disso, quando usamos dados mensais a introdução do ajustamento sazonal não aumenta muito o poder informativo de uma observação isolada. No dado mensal o padrão de sazonalidade pode variar muito ao longo do tempo em resposta a uma serie de fatores, como feriados, greves, paralisações ou mudanças institucionais. Sabemos que não existe técnica perfeita de ajuste sazonal, mas com dados mensais as dificuldades ficam ainda maiores.

Se quisermos ter uma ideia precisa do que está acontecendo com uma economia, o caminho mais seguro é trabalhar com variações em doze meses. Mesmo assim uma observação mensal isolada tem que ser vista com cautela. Por exemplo, a variação em doze meses do IBC-BR até maio de 2013 (portanto sobre maio de 2012) foi de 2,28%, mostrando sem dúvida uma desaceleração importante em relação à variação em doze meses de 7,3% até abril. Note-se, porém, que esse excepcional resultado de abril foi simplesmente ignorado tanto pela imprensa como pela maioria dos analistas de economia. Por outro lado, a variação em doze meses de maio significou aceleração em relação às variações de 1,16% até março e de 0,44% até fevereiro. Que direção de movimento estaria sendo sinalizada aqui?

Existe amplo consenso de que a forma mais segura para se analisar o movimento do PIB é usar dados trimestrais. Não é por outra razão que contas nacionais em toda parte são sempre elaboradas em base trimestral, como acontece também com o nosso IBGE. O que então pode ser concluído quando os dados do IBC-BR são transformados por média para uma base trimestral? Se compararmos o trimestre composto pelos meses de março a maio de 2013 com o mesmo período de 2012 obtemos uma variação de 3,74%. Podemos notar também que ao longo do ano essa variação em doze meses calculada para grupos sucessivos de três meses só aumentou: 1,55% até janeiro. 1,71% até fevereiro, 2,86% até março, 3,5% até abril e 3,74% até maio.

Para calcular a variação em doze meses do segundo trimestre de 2013 precisaremos ter também uma estimativa para o IBC-BR de junho. Para ser bem conservador, vamos admitir que o número de junho fique 2,5% abaixo do número de maio, repetindo um comportamento observado em 2012. Isto significa um número de junho 5,6% abaixo do de abril. Nesse caso a variação em doze meses para o PIB do segundo trimestre será de 3,95%. Ou seja, parece grande a probabilidade de que a taxa de crescimento em quatro trimestres do PIB do segundo trimestre fique muito próxima de 4%.

Se isso for também confirmado pelo IBGE (e é difícil imaginar porque não seria), poderemos estar falando de uma variação trimestral na série com ajuste sazonal do PIB superior a 1%, talvez até próxima de 1,5%. Vai ser bem mais difícil sustentar o pessimismo quando esses números forem publicados em agosto. Ainda assim, é importante insistir de imediato numa leitura mais precisa dos dados da economia. Afinal ninguém pode razoavelmente desejar que o pessimismo de hoje venha a afetar negativamente decisões empresariais de produzir e investir, comprometendo nosso crescimento futuro."

Francisco Lafaiete Lopes - PhD por Harvard, sócio da consultoria Macrométrica e ex-presidente do Banco Central (BC).

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