“Maior beneficiária dos protestos no Brasil, a pré-candidata Marina Silva, que hoje está em empate técnico com a presidente Dilma, segundo o Ibope, constrói um discurso econômico que soa como música aos ouvidos dos empresários e investidores; em entrevista, ela defende a autonomia do Banco Central, um retorno maior nas concessões de infraestrutura, o corte de ministérios e até a exploração do pré-sal como um "mal necessário"; ela revela ainda que entre seus gurus estão liberais como Eduardo Giannetti da Fonseca e até André Lara Resende; será que a guerrilheira ecológica se converterá em heroína capitalista?
Ainda
sem partido, Marina Silva não está para brincadeira. Segundo a pesquisa
Ibope/Estadão, divulgada ontem, a ex-senadora que tenta viabilizar sua Rede
Sustentabilidade iria para o segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff,
se as eleições fossem hoje. E estaria em empate técnico, com 34% dos votos,
contra 35% de Dilma.
Marina,
inegavelmente, foi a grande beneficiária das manifestações de rua que tomaram o
País e se voltaram contra a classe política tradicional. Muitos dos
"sem-partido" se identificam com seu discurso que prega a ética e a
defesa da questão ambiental.
Agora,
depois de ganhar as ruas, ela pretende seduzir também o mercado. E concedeu uma
entrevista ao jornalista Daniel Barros, da revista Exame, que parece ter sido
planejada com essa finalidade. Marina revelou os nomes de sua "equipe
econômica" – Eduardo Giannetti da Fonseca, do Insper, Paulo Sandroni, da
FGV, Ricardo Abramovay, da USP, e até mesmo André Lara Resende, da PUC-RJ e
ex-governo FHC – e também fez um discurso que soaria como música para
empresários e investidores.
Eis alguns pontos:
As manifestações
As
pessoas dizem que a maneira como os governantes estão operando, na lógica do
poder pelo poder, do dinheiro pelo dinheiro, já não as representa mais. Isso é
a melhor energia que se pode ter em uma democracia.
Condução da economia
Eu
dizia, em 2010, que o atraso na política ia acabar nos levando a perder as
conquistas alcançadas a duras penas nos 16 anos anteriores: a estabilidade
econômica e a inclusão social. Quando tivemos a crise financeira em 2008, foram
tomadas medidas corretas para o estímulo do consumo. Quando o país voltou a
crescer, a partir do segundo semestre de 2009, o governo teria de ir puxando o
freio do intervencionismo.
Papel do Banco Central
Não
é necessária uma lei para dizer que não devo comer açúcar de manhã, à tarde e à
noite para não me tornar diabética. Não precisa da institucionalização. Até
porque já tivemos experiências no governo de Fernando Henrique Cardoso e no de
Lula em que havia essa autonomia.
Controle de gastos
Controlar
a inflação por meio da elevação de juros é apenas um dos instrumentos. O gasto
público também precisa ser controlado. Como se cria uma cultura de controle do
gasto público se a governabilidade é feita da distribuição indiscriminada de
mais e mais pedaços do Estado? Se há 39 ministérios?
Concessões
As
concessões estão sendo feitas agora, mas com um atraso de oito anos (…) É
preciso dizer que queremos um serviço de qualidade, mas com um preço acessível
para as pessoas. E permitir uma taxa de retorno que não inviabilize a qualidade
e o acesso ao serviço.
Exploração do pré-sal
Por enquanto, o petróleo ainda é um mal
necessário. A possibilidade de ter os recursos do pré-sal faz sentido para
usá-los em educação, tecnologia e inovação (…) Mas nem sempre o que se
apresenta como possibilidade se transforma em realidade. Eike Batista
que o diga.”
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