Aécio em terceiro lugar


Mais uma vez, uma pesquisa eleitoral mostra as mudanças de cenário político depois dos protestos de junho.

Paulo Moreira Leite, ISTOÉ

Por motivos mais do que esperados, uma grande novidade tem sido evitada, pudicamente, por nossos comentaristas e observadores: pelos números de hoje, Aécio Neves está longe do segundo turno.
Claro que há muito chão pela frente e este ambiente pode mudar.  Os arquivos políticos estão abarrotados de profecias eleitorais fracassadas, ainda mais aquelas anunciadas com tanta antecedência. 

Mas este quatro é ilustrativo dos humores do eleitorado.

A candidatura de Aécio não só perdeu pontos – o único a enfrentar um esvaziamento além de Dilma – mas encontra-se a uma distância cada vez maior em relação a Marina Silva.

A novidade real das pesquisas é essa: se as eleições fossem hoje, Dilma e Marina iriam para o segundo turno.

Estes números dizem menos sobre méritos e defeitos do candidato do que sobre o universo político que ele representa. A força de Aécio junto ao eleitorado de Minas Gerais dificilmente pode ser colocada em dúvida. 

Mas, num país onde o PSDB levou a presidência no primeiro turno em 1994 e 1998, e chegou ao segundo turno em 2002, 2006 e 2010, os protestos de rua ajudaram a criar uma nova polarização política. Tão celebrada pela maioria dos observadores com bom espaço nos grandes órgãos de comunicação, a herança tucana, nem de longe, parece suficiente para ancorar uma candidatura de oposição a Dilma. 

A dinâmica da nova situação política parece clara. Os decepcionados com o PT não se transformam em nostálgicos do PSDB. Pelo contrário. 

Até por uma coincidência do calendário da propaganda eleitoral, Aécio deveria estar tinindo nas intenções de votos. Nas semanas anteriores aos protestos o PSDB inundou a TV com seus filmes de propaganda. Seria seu lançamento em escala nacional, preparado com grande competência, aliás, por uma equipe de publicitários recém-chegados da Venezuela, onde fizeram a campanha do principal adversário do chavista Nicolás Maduro. 

Deu para entender também qual era a campanha que esperavam fazer,  certo?

As pesquisas trouxeram uma novidade tão grande que muitas pessoas têm dificuldade de conviver com ela. Se os eleitores da oposição já sabiam quem não queriam – Dilma – agora não sabem mais em quem precisam votar para impedir uma quarta vitória consecutiva do PT. 

O silêncio dos analistas sobre o ambiente geral da campanha é revelador do tamanho do problema. Empregar os números de Lula numa tentativa para desgastar Dilma é uma forma de evitar a questão real da campanha, que é o naufrágio do PSDB. 

Desde o retorno das eleições diretas, em 1989, o país assistiu a uma mesma história em suas campanhas eleitorais. A disputa sempre foi entre o candidato do PT, Lula, concorrente em cinco das seis disputas, contra um adversário com apoio das forças mais conservadoras. Em cinco eleições realizadas, tivemos PT contra o PSDB.

A pergunta, agora, é saber se o eleitorado que saiu aos protestos de junho recusa essa polarização. 

Aécio perde intenções de voto para uma candidatura que se beneficia de sua imagem de concorrente alternativa, que se apresenta como uma candidata sem passado, sem passagem pelo senado nem pelo ministério do governo Lula. Candidata presidencial pela segunda vez, Marina nunca foi a segunda depois que a campanha de 2010 começou de verdade. 

Para infelicidade de seu adversário direto, Marina conta com toda benevolência possível dos meios de comunicação para esconder a imensa simpatia que recebe da “velha” política, dos “velhos” interesses que alimentam o “velho” Brasil, não é mesmo? Parece que ela é alternativa desde criancinha, não é mesmo?

Ninguém pergunta quais são suas ideias econômicas para retomar o crescimento e impedir um retorno a situação lamentável que se vivia no início da década passada. Tampouco se avaliam as consequências de sua reação amigável diante das barbaridades prometidas por Marco Feliciano no congresso. Acionistas de um dos maiores bancos brasileiros estão engajados até a medula em sua candidatura, numa aproximação que vai muito além do apoio eleitoral –  e poucos analistas de debruçaram sobre o significado desse movimento. 

Marina já declarou que não é de oposição nem da situação – mas ninguém achou que a definição era tão repulsivamente oportunista como o “não é de direita nem de esquerda” empregado por Gilberto Kassab para falar sobre o PSD. 

O ponto principal destes levantamentos é a perspectiva da multidão. 

A rigor, os manifestantes não discordam do governo. Aceitam o que foi feito em termos de distribuição de renda e demais melhorias iniciadas em 2003. Não querem uma volta atrás. 

Por isso, prestam atenção em Marina, que carrega, a cada passo, uma história política com vários cruzamentos com Lula e o PT.  No imaginário do eleitorado, ela é muito menos adversária de Dilma do que Aécio. 

Em sua fotografia atual, as pesquisas indicam que uma parcela grande eleitores tomou distância de Dilma e do governo, mas não se reconcilia com o PSDB nem com os sinais escancarados da velha ordem. Este é o ponto.”  

Comentários

Roberto disse…
Porque Dilma quer derrotar o PT nas próximas eleições? Um artigo de José Joaquim.
Acho que agora ninguém mais tem dúvidas.
Está claro que Dilma, Paulo Bernardo, Vacarezza e sua “entourage”, querem muito que o PT seja fragorosamente derrotado nas próximas eleições para presidente e que em troca essas excrecências continuem com seus mandatos, financiados pelas grandes empreiteiras.
A caterva do PT do Mal fez tudo isso na boa: evitando mobilizar o povo para governar sem ele, dando ministérios em penca para uma chusma de ladrões da tal base aliada e entupindo a mídia adversária e golpista com bilhões e bilhões por ano.
E sem mídia e sem uma política de comunicação social, com Helena Chagas e outros funcionários paus mandados dos Irmãos Marinho mandando na comunicação do governo, ninguém pode esperar ter apoio popular.
Só com a Voz do Brasil e 10 segundos de TV por semana dos enfadonhos discursos de nossa presidenta na telinha, o que nos resta é só esperar que a derrota pelo menos venha no campo da democracia, sem golpe militar e sem a proibição dos partidos políticos. Par
A questão é: por que Dilma faz isso? Porque Dilma quer tanto que o PT seja derrotado nas eleições e que se desgaste cada vez mais? Porque ela não foi na reunião do Partido ? Porque ela quer parecer que não pertence ao PT? A resposta imediata é: para beneficiar Marina e Aécio. Ou será que Dilma e seu grupo tem algum outro candidato, mais de sua confiança, para nos impor à ultima hora como “salvador da democracia”? Ou ela preferiria que não houvesse eleições e que uma insurreição popular acabasse com seu governo e com o PT, principalmente? Mas por que alguém com o passado dela, faria isso? Ela ainda continua no PDT? Ou ela quer desgastar o PT em troca de alguma coisa? O quê?
“Síndrome de Estocolmo” ? Terá ela sofrido de Obama, alguma ameaça pessoal à sua vida ou de seus familiares, como Lula sofreu de George Bush quando dois de seus guarda costas do Exército foram assassinados com tiros de 45 na cabeça em São Paulo enquanto o Lulinha visitava a namorada? Ou simplesmente é uma questão política e ela sempre foi assim, preferindo continuar governando com a direita, inclusive a extrema, e criminalizar o PT?
Afinal o PT, não Lula nem ela, eram ( eu disse eram ) o principal perigo para os interesses do império no Brasil, ao unificar a maior parte das forças de esquerda.
O PT é ( ou era?) o perigo para o império. Não Dilma. Nem Lula. Esses são mortais, são cooptáveis, são convencíveis, pessoas físicas. Que tem interesses, medos e ambições pessoais.
O PT é que precisa ( ou precisava ) ser destruído, por fora e por dentro pelo império através de seus muitos e bem pagos agentes. Afinal foi isso que eles fizeram na Espanha com o PSOE, na Grécia com o PASOK e na Itália e em Portugal com o PS: criar uma quinta coluna de traidores por dentro do Partido, envolve-lo com empreiteiras, com atos de corrupção e depois mudar de partido ou até de ramo.
Acorda PT! É preciso nos livrarmos dos traidores!