A direita vai comemorar o quê?


É claro que a baixa da nossa presidenta nas pesquisas – de popularidade e de intenção de voto – provocou animação nos arraiais da direita brasileira, do Oiapoque ao Chuí e da extrema à média. Mas pensando e pesando bem, a direita (incluindo a oposição parlamentar) não tem muito que comemorar. A menos que já tenho incorporado Marina às suas hostes (e suportado a ideia). Por Flávio Aguiar

Flávio Aguiar, Carta Maior

É claro que a baixa da nossa presidenta nas pesquisas – de popularidade e de intenção de voto – provocou animação nos arraiais da direita brasileira, do Oiapoque ao Chuí e da extrema à média.

Mas pensando e pesando bem, a direita (incluindo a oposição parlamentar) não tem muito que comemorar. A menos que já tenho incorporado Marina às suas hostes (e suportado a idéia).

Em primeiro lugar, os recentes acontecimentos e manifestações mostraram que a direita brasileira, parlamentar ou não, não tem luz própria. Precisa embarcar em ondas alheias. Até mesmo a velha mídia, que dispõe da luminosidade das telas de tevês, precisou engolir em seco e se conter diante da vonta de de simplesmente condenar os “baderneiros”, os “congestionadores do trânsito”. Afinal eles – que estão longe, na realidade, de serem a maioria nas manifestações – poderiam ser usados contra o PT.

Em segundo lugar, a conjuntura que a direita brasileira não tem programa disponível para a população. Ela tem um programa sim. Mas este não pode ser mostrado. Qual é o programa da direita? É a negação de tudo aquilo que melhorou no Brasil: a situação dos mais pobres, os programas sociais, a elevação do salário mínimo, a ampliação da carteira assinada, a presença do Estado para minorar os efeitos perversos da cultura dos mercados.

Para quem acha que as reivindicações dos manifestantes de hoje poderiam ser mais bem atendidas pela direita brasileira, basta lembrar a situação dos transportes públicos e a ampliação dos corredores de ônibus em S. Paulo durante a gestão da Marta Suplicy e o descaso posterior quando o PSDB-Serra/Kassab recuperou a hegemonia da situação.

O programa da direita brasileira está claro aqui na Europa: é o plano de “austerität” que devasta as economias nacionais e manieta a economia internacional. A Irlanda entrou oficialmente em recessão, como se já não estivesse. Merkel vê seu parceiro FDP agonizar nas pesquisas de opinião de voto. A Espanha – além do desastre no Maracanã – superou a Grécia no índice de greves. Como isso é medido? Confesso que não sei, se é por grevistas por metro quadrado ou pelo número de greves/dia, ou ambas as coisas. Na verdade não importa.

Manuel Castells (na ‘Isto É’ Independente desta semana) diz que Dilma é a primeira mandatária a reconhecer a voz das ruas. E é mesmo. Onde mais um presidente ou uma presidenta se assentou na mesa de negociações com representantes destes movimentos? Aqui na Europa é que não foi. Nem nos Estados Unidos. Nem na Ásia ou África.

Numa outra ponta, o programa da direita brasileira é, inconfessadamente, privatizar os bancos públicos, aprofundar a privatização da Petrobras, suspender o Bolsa Família (como ficou claro através do boato espalhado), baixar ou eliminar o salário mínimo e extirpar tudo o que a CLT tem de bom para os trabalhadores. Em resumo: inconfessável.

Para completar este quadro indigente, em terceiro lugar, a direita brasileira ainda não tem candidato. Aécio Neves ainda é candidato a candidato. Está subindo nas intenções de voto, mas devagar demais. E Aécio vai para onde o vento sopra, ao contrário de Serra, que sempre quis soprar o vento. Ele não é inteiramente confiável para a execução do verdadeiro programa da direita.

Marina é na verdade intragável para a direita. É verde demais, é povo-da-floresta demais, tudo o que a direita despreza e detesta. Pode ser usada no sentido de que para derrubar Dilma, tudo vale. Mas é só. Se, no caso de um segundo turno, ela ameaçar a presença de Aécio, vai haver gente na velha mídia querendo detoná-la.

Eduardo Campos ainda corre na mesma faixa de Dilma, embora puxe para si uma parcela da classe média norte-nordestina que busca uma alternativa ao petismo ascendente na região. Por isso não sobe nas pesquisas. Mas se ele subir e ameaçar o reinado do PSDB nesta fatia de leitores, também vai virar alvo, ao invés de possibilidade.

Por fim, resta Joaquim Barbosa. Mas de todos, ele ainda é o mais intragável – como candidato – para a direita. O fato de ser, digamos, numa licença poética, “apartidário” é bom enquanto ele for um anti-candidato, anti-política, anti-políticos. Mas se entrar na arena (ou no PSDB, ou DEM, ou outro partido) para valer, ou começar a seduzir seus quadros, ele vai entrar na lenha também, por ser “independente” demais. A velha mídia que hoje o incensa vai desincensá-lo também. Afinal, ele é uma espécie de Cacareco (quem lembra? – e na verdade era uma Cacareca) pós-moderno. Ou, de modo mais elegante, um rinoceronte de Ionesco. O enigma que devora quem o cultua.

Bom, a direita sempre pode contar com as atrapalhações da esquerda. Como isso de propor – logo agora – uma “faxina” no partido (por que não “expurgo”?). Não seria melhor aventar a proposta de um novo Congresso que definisse os rumos programáticos do partido depois da reeleição ou não de Dilma? Ou isso de já querer trocar de candidato agora, in media res? O préstimo divisionista da esquerda está sempre a postos, pronto para ajudar a direita.

E para completar este quadro algo desolador, o Brasil ganhou a Copa das Confederações.’

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