Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação
“A grande onda
da mídia de mercado nestes dias tem sido criticar com extrema dureza a
Presidenta argentina Cristina Kirchner. O Globo e outros dez jornais da América
Latina publicaram durante vários dias uma série de reportagens sob o título Liberdade
Ameaçada. Cristina e o já falecido Nestor Kirchner foram acusados de tudo
que se possa imaginar em matéria de corrupção e de ações visando restringir a
liberdade de imprensa.
Pelo que foi dado a
conhecer, a Argentina está a beira do caos, mas o ódio maior da mídia de
mercado sem dúvida é a lei dos meios de comunicação, discutida por mais de três
anos pelos movimentos sociais, aprovada pelo Congresso e sancionada pela
Presidenta atual. A reforma da Justiça também foi criticada com veemência.
Na verdade, como se trata de
uma campanha sistemática com o visível intuito de desprestigiar o projeto de
Cristina Kirchner e debilitar seus seguidores nas próximas eleições
legislativas (as reportagens foram divulgadas também pelo jornal Clarin), as
matérias deram pouco ou quase nenhum espaço para os defensores da presidenta.
Apesar das críticas diárias,
que continuarão, outras matérias acusam os seguidores dos Kirchner de estarem
preparando um projeto que permita a Cristina concorrer a um terceiro mandato. Nesse
ponto, a mídia de mercado cai em contradição. Ao mesmo tempo em que revela um
grande desgaste da imagem da presidenta, fica visível a preocupação por ela
aspirar nova reeleição. Mas se Cristina está tão desgastada, qual o motivo do
temor?
Na verdade, além da lei dos
meios de comunicação e da reforma da Justiça, a mídia de mercado nunca se
conformou com o fato do atual governo não seguir o receituário do capital
financeiro internacional. Nesse sentido, tudo precisa ser feito em matéria de
desgaste de Cristina.
O mesmo raciocínio vale para
presidentes como Rafael Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia e o mais
recente, Nicolás Maduro, da Venezuela. Todos eles são duramente criticados
diariamente nas publicações dos integrantes do chamado Grupo de Diários América
(GDA), que na verdade se comportam muito mais como partidos políticos
defensores de projetos favoráveis ao Estado mínimo do que órgãos de imprensa
propriamente ditos.
Os meios de comunicação de
mercado citados dificilmente informarão aos seus leitores, ouvintes e
telespectadores sobre o fato de as políticas do governo da República
Bolivariana da Venezuela terem reduzido o indicador de fome em 86% nos últimos
14 anos, exatamente desde a ascensão do Presidente Hugo Chávez.
Quem reconhece esse índice
na Venezuela é a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
(FAO). Vale ressaltar também que a mesma FAO estabelece como meta para 2015 que
os governos dos países reduzam os índices de desnutrição à metade do que tinham
em 1990. A
Venezuela naquele ano apresentava o índice de 11% e mesmo em 2010 alcançou 2%,
ou seja, menor até do que o estipulado pelo organismo da ONU.
Mas em matéria de Venezuela,
o espaço da mídia de mercado fica por conta de Henrique Capriles Radonsky, que
segue deslegitimando a eleição de Nicolás Maduro no pleito presidencial de 14
de abril último com a acusação, sem provas, de fraude. O candidato derrotado,
por pouca margem (pouco mais de 1,5%), mas derrotado, conta com o apoio do
governo estadunidense. Capriles andou circulando pelo exterior sendo recebido
pelo Presidente colombiano Juan Manuel Santos.
Já os seguidores de
Capriles, como a deputada Maria Corina Machado, estiveram recentemente no
Chile. A parlamentar se entendeu muito bem com pinochetistas eméritos, entre os
quais Hernán Felipe Errázuriz Correa, ex-Ministro do Exterior e também de
Minas, além de presidente do Banco Central, durante o regime sanguinário
chileno.
A divulgação do encontro
entre correligionários foi noticiado pelo jornal El Mercurio, que
integra o tal Grupo de Diários América e que antes do golpe contra o presidente
Salvador Allende foi contemplado pela CIA com 1,5 milhão de dólares.
Outra importante informação
também praticamente ignorada pela mídia de mercado brasileira foi a criação
pela Unasur (União das Nações Sul Americanas) da primeira Escola Sul Americana
de Defesa (Efuse) com o objetivo de formar militares dos 12 países integrantes
da instituição. O ensino da Efuse será no contexto do pensamento estratégico
essencialmente sul americano e promoverá intercâmbio de professores e alunos,
civis e militares nos programas.
Mas os questionadores do
comportamento partidário dos meios de comunicação de mercado são acusados de
ferir a liberdade de expressão e de imprensa, quando acontece exatamente o
contrário.
Por estas e muitas outras,
as ferozes críticas a Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales e Nicolás
Maduro devem ser entendidas como campanhas contrárias a quem não segue o
receituário do pensamento único, defensores do estado mínimo.”
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