Na Paulista, extrema direita agride partidos de esquerda


Marina Dias, Bob Fernandes,  Terra Magazine

Desde o início da noite desta quinta-feira (20), provocações, palavras de ordem e um clima de tensão tomaram conta da Avenida Paulista, onde aconteceu a sétima manifestação organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL), em São Paulo, para comemorar a revogação do aumento das tarifas do transporte público na cidade. Com bandeiras e camisetas de partidos como PT, PSTU, PCO, PCdoB e PSOL, militantes eram hostilizados por manifestantes enquanto tentavam avançar com a marcha que mudou de grito – e de reivindicações – nos últimos quinze dias.

A redução da tarifa, principal bandeira dos protestos, foi substituída por faixas e cartazes em que se estampavam desde o não à PEC 37, proposta que limita a atuação do Ministério Público em investigações criminais, até o fim da corrupção e o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), do prefeito Fernando Haddad (PT) e do governador Geraldo Alckmin (PSDB). "Só Jesus salva" também teve espaço entre as novas bandeiras.

Vestido com uma jaqueta preta e um capacete de motoqueiro na cabeça, um homem de 50 anos, morador do bairro de Perdizes, zona oeste da capital paulista, e que se identifica como V -de vingança ou de vinagre?-, caminhava com o peito estufado em direção ao cordão humano formado por petistas e dirigentes de movimentos estudantis e sociais.

- Filho da puta! Filho da puta! Filho da puta!

O grupo de aproximadamente 150 militantes era orientado por Danilo de Camargo, da Comissão de Ética Estadual do PT, a não responder a provocações. "Cara de paisagem, pessoal. Xingar é democrático", repetia, aos berros.
V simulou que daria um tapa na cara de um homem que estava com camiseta vermelha, na linha de frente do cordão de isolamento, mas recuou. Diminuiu os passos e resolveu falar uma frase diferente da que gritava há quase trinta minutos, sem intervalos. Dessa vez, para Terra Magazine:

- O sistema está corroído. Só um golpe militar…

Segue a marcha.

De um lado e de outro da Avenida Paulista, gritos de "Fora PT", "Vai tomar no cu, PT", "Puta que o pariu, o PT é a vergonha do Brasil" e "Sem partido" envolviam o grupo que se deslocava com a escolta do cordão formado por diversas pessoas. Como resposta, os manifestantes antipartidários ouviam: "Coxinha, reaça, não passarão", "Sem fascismo", "Democracia".

Na altura do número 900, quase em frente à TV Gazeta, o encontro dos grupos que, até ali, havia gerado empurra-empurra, muitos palavrões e confusões rapidamente controladas, ganhou um novo ingrediente.

Jovens fortes, agressivos e com o rosto coberto por touca ninja, um deles segurando um taco de hóquei, queriam que os militantes dos partidos políticos e movimentos sociais abaixassem as bandeiras à força. Socos, chutes e correria. Um dos manifestantes foi atingido na cabeça e saiu da confusão sangrando bastante.

Nas calçadas e nos canteiros que dividem a avenida, pessoas aplaudiam e gritavam conforme as bandeiras eram arrancadas das mãos dos militantes. Algumas foram queimadas. Gritos eufóricos. Outras, quebradas e rasgadas. Aplausos.

Os militantes dos partidos e dos movimentos sociais baixaram as bandeiras, tiraram os bonés, fecharam a blusa de frio por cima das camisetas vermelhas e deixaram a Paulista.

A passeata que saiu da Praça do Ciclista às 17h e seguiu no sentido Paraíso estava heterogênea. Lideranças do MPL estavam misturadas aos ativistas LGBT, às representantes da Marcha Mundial das Mulheres, aos militantes de diversos partidos políticos, aos integrantes de movimentos ligados a centrais sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), e às milhares de pessoas que, enroladas em bandeiras do Brasil ou com tinta verde e amarela pintando os rostos, empunhavam seus cartazes e levantavam a voz na passagem de qualquer coisa que fizesse referência a uma organização partidária.

Pessoas essas que, misturadas aos jovens agressivos, cantavam o Hino Nacional, pediam a prisão dos "mensaleiros", rezavam o Pai Nosso…
Às 19h30 um senhor de aproximadamente 70 anos andava pela calçada vagarosamente. Em uma das mãos, carregava a haste da bandeira que escondia dentro da blusa fechada. Uma bandeira do PT.

Apesar da convocação do presidente nacional petista, Rui Falcão, na noite de quarta-feira (19), para que os militantes fossem às ruas participar das manifestações, somente 150 pessoas vestiram seus uniformes vermelhos e se reuniram no fim da Avenida Angélica na quinta-feira (20).

O partido que sempre esteve acostumado a liderar as principais manifestações populares do Brasil não conseguiu se integrar à nova causa que, agora obscura, avança por todo o país.

110 mil pessoas ocupavam a Paulista às 20h, segundo o Datafolha. Algumas centenas se dividiram entre a Avenida 23 de Maio, o Rodoanel, a Câmara Municipal e a Assembleia Legislativa ao longo da noite. Muito mais dispersas que nos outros dias de protesto.

Bem antes disso, as lideranças do MPL já haviam orientado o seu pessoal a deixar as manifestações. "Cumprimos nossa obrigação", disse Lucas Monteiro, integrante do Movimento Passe Livre. "Mas a luta continua", completou.’

Comentários