Vitória da “galinhada”


Cláudio Lembo, Terra Magazine / Blog do Cláudio Lembo

“As sessões legislativas da última semana permitiram ao observador a captação de muitas situações novas. No cenário parlamentar, a incrível capacidade da oposição em criar obstáculos ao desenvolvimento do processo legislativo.

Os argumentos – sempre os mesmos – foram repetidos a exaustão. As premissas sempre semelhantes, as conclusões jamais atingidas. A oposição mostrou sua capacidade incomum de obstacularizar.

Foi vencida. Deve-se o desfecho sobretudo à capacidade incomum das presidências das Casas – Câmara e Senado da República – em aceitar todas as provocações. 

Mantiveram-se impassíveis. Só dois políticos calejados e temperados por longas lutas poderiam demonstrar tão grande conformidade com tudo que viram e aceitaram em busca do objetivo: a aprovação da medida provisória dos portos.

Alguns debates tornaram-se indignos de um Parlamento mais que centenário. Ofensas pessoais em grau inadmissível em qualquer ambiente minimamente civilizado.

A adjetivação – em qualquer birosca – levaria a final macabro. Os deputados envolvidos foram além dos limites do decoro. Insultaram-se de maneira rara para os atuais padrões civilizatórios.

Lembraram os anos amargos de 1950, quando a oposição ia à busca de adjetivos pejorativos, em dicionários, para agredir os adversários. Esta fase da vida pública parecia afastada de nossa realidade política.

Lamentavelmente, no entanto, ressurgiu como uma fagulha na tribuna da Câmara Federal. Triste. Este episódio não é o mais importante. Felizmente. Há mais a ser examinado no ambiente parlamentar.

Em todos os debates, o comparecimento, aberto ou velado, de empresários desejosos de influir no texto da medida provisória. Queriam facilitar seus atuais e futuros negócios.  

Nada de extravagante. Todos os parlamentos dos países democráticos conhecem a prática do lobby, ou seja, as formas de pressão sobre os representantes populares.

É próprio do regime, onde todos os segmentos sociais podem e devem propugnar por seus interesses. O mal, entre nós, é a falta de regulamentação explícita da prática do lobbismo.

Isto permite que aventureiros de todas as espécies ingressem nos parlamentos, sem qualquer fiscalização, exerçam suas atividades nem sempre plenas de licitude.

O Congresso precisa regulamentar de maneira precisa a presença de terceiros interessados em seu recinto. A mera presença da atividade no Regimento da Câmara Federal é pouco.

São necessárias regras claras e bem definidas. Após os acontecimentos da última semana, os projetos em curso, a respeito do lobby, precisam ser desengavetados e analisados.

Uma última observação. No meio de toda balbúrdia criada no decorrer da análise da medida provisória dos portos, os deputados tiveram a oportunidade de confraternizar em torno de uma saborosa "galinhada".

Vá o leitor aos dicionários correntes – Aurélio, Houaiss e Silveira Bueno – e não encontrará o vocábulo. É prato próprio da culinária das regiões rurais. Uma demonstração da pujança da agricultura nativa. Do novo Brasil.

A "galinhada" é sinal de progresso. Avanço para o interior. Deixou para trás a "caranguejada" típica do litoral.”

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