Nota zero para o Mais Você


Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação

“Hoje, optei por um mosaico de assuntos. Peço, antecipadamente, desculpas pelo tom irônico , nada jornalístico, no tratamento de alguns deles. Mas é irresistível...

No paraíso democrático americano...

Na terra do “tea party”, das prisões perpétuas sem julgamento, das justificativas para atos de tortura, dos voos não tripulados que assassinam inocentes , a democracia continua impondo seus valores... O episódio mais recentes diz respeito à apropriação secreta , pelo Departamento de Justiça americano, de registros telefônicos da agência Associated Press e seus jornalistas, sob o pretexto de atuar em nome da “proteção da segurança nacional”. Fico imaginando se isso ocorresse em nosso país...

A abertura dos portos em ações entre amigos...

Não sou especialista na questão, a ponto de defender esta ou aquela solução para a modernização e adequação dos portos brasileiros às necessidades do país. Mas, quando se lê que, no nosso Congresso, a votação da MP dos Portos foi dificultada em função dos divergentes interesses dos agroprodutores, do grupo Gerdau, da empresa Odebrecht, de Eike Batista, do banqueiro Daniel Dantas (!), do grupo Libra, da Transpetro e da Força Sindical, todos fortemente representados no poder legislativo, a pergunta é inevitável...Quem, dentre os parlamentares, sobra para defender os interesses do povo, que elegeu todos eles? A impressão que dá é que a picaretagem não está mais limitada ao número 300... E tem gente que acha fácil governar um país assim, sem fazer concessões. Alguém pode me dizer como fazer isso? Alguém já conseguiu fazer isso nos tempos recentes da nossa política? Por razões óbvias, não vale exemplificar com a ditadura torturadora e assassina...

O país, finalmente, se orgulha do seu Judiciário...

Demorou, mas podemos agora ostentar, para o mundo inteiro, a integridade do poder judiciário que, com o mensalão , colocou a nu um “monumental esquema” de corrupção para votar algumas leis favoráveis ao governo. É claro que, em termos numéricos (R$) , ele perde disparado para as aventuras do Cachoeira e seus asseclas , para a Privataria Tucana do livro do Amaury Ribeiro Jr. , para o processo de mudança da constituição para garantir a reeleição presidencial (quantos “projetos governamentais” foram então garantidos?). Principalmente se ficar claro que não houve o uso de dinheiro público (Visanet não é Banco do Brasil) alegado para algumas condenações. Mas, como ninguém é de ferro, não devemos exigir tanta integridade assim. Agradeçamos aos céus que, pelo menos, sejam apurados e julgados apenas os casos de falcatruas (verdadeiras ou supostas) que a nossa insuspeita mídia resolva promover...

Programação da tevê aberta: um magnífico exemplo do padrão de qualidade...

Aqui, eu vou me permitir transcrever palavras da jornalista Patrícia Kogut , de “O Globo”, que se especializou em comentar a programação da tevê. Veja o que ela diz, em algumas considerações críticas a propósito de programas da tevê que “a gente vê por aí”. Para mim, ainda que raras, vindo de quem vem, são emblemáticas.

“(Nota) 0 – Para o “Mais você”, pelo longo tempo dedicado ao batom usado por Cláudia Raia em “Salve Jorge”, com direito a entrevista com a maquiadora. Realmente um tema fascinante.”

“Tenha você gostado ou não do embate à La David e Golias, não se pode negar que o espancamento vem sendo um recurso muito usado – com relativo sucesso - para fazer subir os números dessa trama” (falando sobre as cenas de violência na novela “Salve Jorge”)

“A montagem da tal máquina envolvia frases como “enfia na rosca”, “enfia na tarraqueta”, “enfia no rabo. (...) Fizeram uma longa cena sobre disenteria e falta de papel higiênico. Com um texto desses, “O Dentista Mascarado” não agrada nem ao publico do recreio da sexta série”)

Acho que todos concordam que as observações dispensam comentários adicionais sobre certos objetivos culturais da tevê aberta, na busca do que ela acha que sejam os valores da classe “C”...

Tostines, Marina e os recursos argumentativos...

Há anos, circulou , com grande êxito na mídia, um anúncio dos biscoito Tostines, que colocava para os interlocutores uma questão: “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?” . A peça publicitária, com esse círculo vicioso, pretendia mostrar ao público duas características do produto: a boa qualidade e a aceitação publica. Marina Silva tentou corrigir suas palavras originais, ao dizer que considera “um erro” criticar o pastor-deputado Marcos Feliciano “por ser evangélico”, e não por suas ações e atitudes. Mas isso me fez pensar, por tudo que se vê por aí, se o deputado tem ideias absurdas porque é pastor ou é pastor porque tem ideias absurdas....

O verdadeiro glamour de Angelina Jolie...

Num tempo de franca exposição e da busca vulgar da idolatria, num mundo em que “seguidores” não acompanham mais ideologias mas “personalidades” pra lá de vulgares, num cenário de valorização total do físico sobre o espiritual, a atriz americana, confirmando outras atitudes ao longo de sua vida ainda curta, dá ao mundo um exemplo – com a exposição do problema que a levou à mastectomia dupla (com todos os efeitos físicos e emocionais que podemos imaginar) - de como se pode ter “glamour” e conquistar o respeito das pessoas por um tempo bem maior do que os quinze minutos de um corpo bonito...”

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