Choque de capitalismo?

Ao vender a maior reserva do pré-sal, Dilma pode anular mais um discurso da oposição, contra a presidente supostamente intervencionista


Sabe aquela governante intervencionista, que já vinha sendo comparada ao general Ernesto Geisel, por tentar concentrar no Estado todas as decisões econômicas? Esqueça. Ela não existe mais. E talvez nunca tenha existido de fato, a não ser na ficção criada por seus opositores.

Se faltava uma demonstração de crença no mercado, ela veio na semana passada, quando a Agência Nacional do Petróleo anunciou que o governo ofertará, na próxima rodada de leilões, o campo de Libra. Não se trata de um bloco qualquer. É simplesmente a joia da coroa, que concentra a maior reserva do pré-sal. Nada menos que um valor estimado entre 26 e 42 bilhões de barris. E “mais perto de 42”, segundo a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.

Num mundo com reservas de óleo e gás cada vez mais escassas, e de difícil exploração, o leilão deverá atrair as grandes petroleiras globais. “Coisa de gente grande”, diz Chambriard. E que, além de arrecadar alguns bilhões para o Tesouro, deverá contribuir para anular de vez a crítica da oposição ao governo supostamente intervencionista de Dilma. Um governo, aliás, que acaba de conduzir uma das maiores privatizações do setor portuário já feitas no mundo.

No script político de 2014, estava previsto um ataque pesado à Petrobras – que talvez seja até alvo de uma CPI proposta, vejam só, pelos aliados do governo no Congresso. Dilma vinha sendo acusada de exigir demais da estatal, que, sozinha, seria incapaz de realizar todo o investimento necessário para explorar o pré-sal. Agora, o setor privado do Brasil e do mundo está convidado a entrar no jogo.

A essa notícia, somam-se outros dados positivos da semana passada na economia, como a geração de quase 200 mil empregos em abril e a queda da inflação, provocada, sobretudo, pela desaceleração dos preços dos alimentos.

Num mundo em crise, com a Europa em frangalhos e até a China, que vinha sendo o motor do crescimento global, pisando no freio, o Brasil continua de pé. Com a abertura do pré-sal, talvez se transforme na grande fronteira do investimento global nos próximos dois anos – o que certamente terá implicações políticas.”

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