Cláudio Lembo, Terra Magazine / Blog do
Cláudio Lembo
“Há um indisfarçável mal estar no ar. As conversas entre amigos só
contam com um tema: a corrupção. A fragilidade moral demonstrada por algumas
autoridades e seus assessores é calamitosa.
Todos os dias, o noticiário é idêntico. Só
se altera a região geográfica. O conteúdo é de uma semelhança amarga. Lá no
Acre como aqui na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo o mesmo
espetáculo.
O aproveitamento dos cargos públicos para o
enriquecimento imediato. Já não se fala na nobreza da riqueza obtida pelo trabalho.
O que importa é recolher numerário a qualquer custo.
Perderam-se os limites entre o bem e o mal.
A marginalidade fez escola e venceu. É produto do consumismo desenfreado que
atingiu a todas as sociedades e, por via de conseqüência, a brasileira.
Ninguém espera para obter o ganho lícito. Tudo
tem que ser imediato. Rápido como as imagens de um seriado de televisão. Já não
há valores morais. Uma escala de deveres.
Só existem olhos para o ganho fácil. É
triste constatar que as lições de nossos antepassados foram por água abaixo. O
que aconteceu? É pergunta de difícil resposta.
Rompeu-se a tradicional harmonia – forçada
é bem verdade – existente no mundo rural. Nas cidades as pessoas são
individualidades isoladas. Independentes. Não devem nada há ninguém.
Este isolamento superou a velha e boa
“polícia dos vizinhos” indicada pelas Ordenações do Reino. Ninguém é vizinho de
ninguém. As autoridades tradicionais – o padre, o juiz e o delegado –
perderam-se na massificação.
Nada restou dos costumes assentados. Foram
para o espaço. Vale tudo. Neste cenário de fragilidade moral a corrupção grassa
em campo fértil. Todos se sentem livres para agir de acordo com seus interesses
imediatos.
Perderam-se os valores nacionais. Clamam os
pólos centrais de Poder pela globalização. A perda da soberania. Nas escolas já
não se fala sobre a Pátria e a nacionalidade.
Falta, por toda a parte, civismo. A crença
na brasilidade. Naqueles valores tão caros aos nossos antepassados. São Paulo,
para tomar um único exemplo, era terra de gente simples.
A casa paulista era de uma austeridade
digna de Francisco de Assis. Hoje, os novos ricos – ricos não se sabe como –
querem ostentar. Mostrar poder barroco. Aparecer nas colunas sociais pelos mais
esdrúxulos motivos.
Não vai dar certo. Vamos de mal a pior. As
fugas psicológicas aumentam. O jovem ingressa na criminalidade. Avança no
caminho das drogas. Todos querem viver um mundo irreal.
As fugas das obrigações tornaram-se regra. São
estreitos os espaços de convivência entre pessoas que ainda acreditam. Trabalham.
Constroem. Uma ruína ética se amontoa a cada dia.
É necessária uma reação. Deve-se perder a
vergonha de ser honesto. De acreditar em valores éticos. Preservar elementos
que permitam a permanência de uma sociedade sadia.
As igrejas necessitam fazer um exame de
consciência. Os empresários edificar exemplos de bom convívio entre o capital e
o trabalho. Os professores – os novos mártires – transmitir exemplos de
abnegação.
Chega de exaltar o cafajeste. O canalha. O
sem caráter. Já chegou a hora de retorno aos valores de sempre da sociedade. É
por egoísmo que o retorno é exigido. Salvar o ser humano.
A caminhada atual é para o abismo. Este
está próximo. Só não vê quem não quer.”
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