Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho
“Nada como um feriado no meio da semana
para acalmar os ânimos de suas excelências em Brasília e dar uma trégua ao país
que, de crise em crise entre os três poderes, vive um momento de baixo astral
sem que nada de muito grave tenha realmente acontecido.
"O clima não está para festa",
resume um importante assessor palaciano diante da agenda negativa das últimas
semanas. Desta forma, o 1º de Maio, que costumava ser uma celebração entre
centrais sindicais e autoridades para comemorar as conquistas dos
trabalhadores, acontecerá sem a participação da presidente Dilma Rousseff e sem
o anúncio de atendimento de algumas das 12 benfeitorias reivindicadas ao
Palácio do Planalto ao fim da marcha promovida em Brasília no mês passado.
Dilma voltará a se apresentar em cadeia
nacional de rádio e televisão, pela terceira vez este ano, mas não terá grandes
novidades para anunciar. Ainda na tarde de segunda-feira ela se reuniu mais uma
vez com o ministro Guido Mantega para acertar a pauta do pronunciamento , mas
os principais temas se resumem à geração de empregos e aumento da renda dos
trabalhadores, as grandes conquistas dos trabalhadores nestes dez anos de
governos do PT.
Dilma pode falar também de subsídios para a
compra de eletrodomésticos no programa Minha Casa Minha Vida e a possível
redução de tarifas do serviço público de transportes com a redução de
impostos para o setor, além de falar na regulamentação dos direitos
trabalhistas dos empregados domésticos, medida já anunciada semanas atrás.
As notícias levadas por Mantega à
presidente em sua rotineira reunião de começo de semana não eram animadoras: no
primeiro trimestre deste ano, a poupança do governo caiu 41%, indicando que a
desoneração fiscal não foi acompanhada por novos investimentos. Com o fraco
crescimento e a queda dos impostos a receita teve uma queda de 0,5% e as
despesas subiram 11,5%.
Se não chegam notícias boas da área
econômica, da mesma forma acumulam-se as pendências políticas nos embates entre
Executivo, Legislativo e Judiciário, sem que o governo federal consiga mostrar
protagonismo na articulação política capaz de serenar as relações entre os três
poderes e retomar a iniciativa da agenda para este ano pré-eleitoral.
Ao contrário, enquanto a presidente Dilma
era vaiada por produtores rurais em evento no Mato Grosso do Sul, em razão da
demarcação de terras indígenas pela Funai, que agravaram a crise fundiária,
quem assumia o comando das articulações eram os presidentes do Senado, Renan
Calheiros, e da Câmara Federal, Henrique Alves, que foram à casa do ministro
Gilmar Mendes para tratar das pendências entre Supremo e Congresso.
Outro detalhe mostrando que alguma coisa
está fora de ordem e de lugar é que os dois representantes do Congresso
Nacional foram à casa de Gilmar Mendes, como se o ministro do STF fosse o
condestável da República, em lugar de se promover o encontro em gabinetes da
Câmara ou do Senado.
Como tudo aconteceu a portas fechadas, só
se ficou sabendo que os três terão nova reunião na próxima semana e que Gilmar
Mendes mandará logo para o plenário a decisão sobre a criação de novos
partidos, um projeto do Congresso que ele suspendeu com liminar na semana
passada.
Em resumo, temos apenas três problemas
sérios no momento: a articulação política travada, a economia emperrada e
o ativismo do judiciário ocupando os espaços vazios. Enquanto isso, os
pré-candidatos às eleições de 2014 continuam em campanha, sem que se veja no horizonte
qualquer solução à vista para mudar este cenário.
Apesar de tudo, bom feriado a todos. A semana,
como dizem meus amigos cariocas, praticamente acabou.”
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