Agência Brasil
"Em seu depoimento na tarde de desta
segunda-feira 15 no Júri Popular do Massacre do Carandiru, Moacir dos Santos,
então diretor da Divisão de Segurança e Disciplina da Casa de Detenção do
presídio e substituto imediato do então diretor, José Ismael Pedrosa, disse que
os policiais “chegaram metralhando” para conter a rebelião no Pavilhão 9, que
deu início à chacina.
“A tropa de choque entrou invadindo, não
respeitando nem o Ubiratan [coronel
Ubiratan Guimarães, comandante da Polícia Militar na época em que ocorreu o
Massacre do Carandiru]”, disse, em depoimento no Fórum da Barra
Funda, na zona oeste de São Paulo. “Ele [Ubiratan]
não deu ordem para isso, mas depois ele viu que não tinha mais jeito”. Segundo
o diretor, Ubiratan não chegou nem a ficar dois minutos no Carandiru, pois foi
atingido por um aparelho de TV que foi arremessada do pavilhão e teve que ser
socorrido.
O maior massacre do sistema penitenciário
brasileiro aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram
mortos e 87 ficaram feridos durante a invasão policial para reprimir uma
rebelião no Pavilhão 9 do Presídio do Carandiru (como ficou conhecida a casa de
detenção), na capital paulista. Mais de 20 anos depois, teve início hoje o
julgamento do massacre, que foi dividido em etapas devido ao grande número de
réus. Na primeira etapa, 26 policiais estão sendo julgados por participação no
massacre.
O diretor disse que estava trabalhando
nesse dia quando recebeu a notícia de que dois detentos do Pavilhão 9 tinham se
ferido após uma briga. “Soube que houve tumulto por causa dessa briga e me
dirigi para o Pavilhão 9”,
contou. Quando chegou lá, viu que, no terceiro andar, alguns presos estavam
encapuzados. “Não fizeram nada contra os funcionários, queriam que a gente
saísse dali para que eles pudessem fazer o acerto de conta deles”.
Santos disse que retirou os funcionários do
pavilhão e trancou a grade de acesso dos presos, impedindo que os detentos que
estavam no térreo subissem. Uma comissão de autoridades foi montada para
discutir a rebelião, tendo a presença de dois juízes, disse Santos. A intenção
era tentar negociar o fim da rebelião. No entanto, segundo ele, não houve tempo
para a negociação. “A Rota entrou primeiro e já chegou metralhando e não nos
deixou socorrer os presos metralhados”.
Depois que a ação policial no local
terminou, o diretor disse ter entrado no pavilhão e visto “uma escada onde
escorria sangue e água, parecendo uma cascata”. Ele também contou ter visto
amontoados de corpos no segundo andar.
Ao juiz José Augusto Nardy Marzagão, o
diretor disse não acreditar que os presos estivessem armados nesse dia, apesar
de, no final da operação, os policiais terem lhe mostrado algumas armas de fogo
que disseram, naquele dia, estar no poder dos presos. “Acho improvável que
aquilo fosse dos presos. Se eles tivessem [armas de fogo], eles as teriam
usados”. Além disso, disse o diretor, as “armas eram bem velhas, muito antigas”
e dificilmente poderiam ser usadas. O diretor também lembrou que não presenciou,
na ocasião, qualquer policial que tenha ficado ferido durante a ação.
Antes do depoimento de Santos, também
prestou depoimento o preso Luiz Alexandre de Freitas, que cumpre pena há 23
anos e presenciou o massacre. Freitas, que está em uma cadeira de rodas, disse
que ocupava uma cela no terceiro andar do Pavilhão 9 na época em que o massacre
ocorreu, em outubro de 1992.
No dia em que o massacre ocorreu, Freitas
disse ter escapado da morte porque se escondeu embaixo de uma pilha de
cadáveres. ”Aconteceu uma rajada [de tiros]. Eu caí. E quando vi que iam me
matar, me enrolei em
cadáveres. Fiquei ali até os [representantes] dos Direitos
Humanos entrarem [no local], um pessoal de gravata”, narrou ao juiz. Freitas
disse que “ficou embaixo dos cadáveres por cerca de 40 minutos”. “Para não
morrer, fiquei embaixo dos cadáveres e o sangue deles escorrendo em mim”.
Freitas também disse que, em determinado
momento, quando já tinha deixado a pilha de cadáveres, um policial “chinês”
olhou para ele e disse que ele não seria morto e que poderia sair “porque você
tem a cara do meu filho”. Quando confrontado pelos promotores (de acusação) se
ele se lembra quem era esse policial, Freitas apontou para um dos policiais que
estão no júri, na condição de réu.
A primeira testemunha a depor hoje foi
Antônio Carlos Dias, ex-detento sobrevivente do massacre. Ele relatou as
circunstâncias em que os policiais militares invadiram o presídio e como
abordaram os presos. “Se olhasse na cara do policial, eles atiravam. Eu
presenciei isso. Não lembro do rosto de nenhum porque sai da cela olhando para
o chão”, disse. Depois falou o ex-detento Marco Antônio de Moura. Em seu
depoimento, Moura também narrou a briga inicial entre os presos que desencadeou
a rebelião.”
Comentários
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Estão achando que a tropa da policia não devia ter tomado uma atitude e deixado que os presos fizessem o que quisessem lá? Aposto que teria tido sangue derramado igualmente, ou até pior!
Bandido que está na cadeia acha que pode fazer o que quer. Faz rebelião, queima colchão, mata lá dentro... E quem sustenta isso? O povo brasileiro, que sempre faz papel de idiota, porque sustenta bandido, sustenta corrupto e diz odiar politica e acaba se acomodando a situação.
Reclamar sobre uma 'chacina' que aconteceu há 20 anos atrás é fácil, agora quero ver é ir trabalhar, tomar uma atitude pra isso mudar, pra não acontecer algo assim novamente.
Poderia ter vários roubo e crimes de menor gravidade, que sofreram pena de morte, enquanto justiça no Brasil não condena à morte nem latrocínio, nem pedofilia, nem estupro. Portanto, o Brasil não precisa de mais imbecis do que já tem.
Me surpreendi.
Como disse nosso amigo acima, parafraseando o Alborgethi...
BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO
Sugiro começar uma campanha pelo Tweet e Face para que voluntários defendam os PM´s na porta do forum com cartazes.
Onde entra os direitos humanos ?
É fácil falar que bandido bom é bandido morto, quando tal bandido nao é seu parente ou amigo.
Aposto que 90% dos presidiários que foram mortos, nao tiveram acesso a uma educação de qualidade. Tudo isso poderia ter sido evitado se realmente o Brasil fosse um "país de todos".
Marília Paulucci