“Alckmin deveria exonerar seu jovem
reacionário Ricardo Salles, nem que fosse por pragmatismo político, mas prefere
fingir que não é com ele
Leonardo Attuch, Brasil 247
Imagine o que aconteceria se o secretário
particular de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, negasse o
Holocausto.
Ou se o chefe de gabinete de Barack Obama dissesse que o 11 de Setembro não passou de uma conspiração norte-americana. Em qualquer uma das hipóteses, seriam demitidos sumariamente.
Ou se o chefe de gabinete de Barack Obama dissesse que o 11 de Setembro não passou de uma conspiração norte-americana. Em qualquer uma das hipóteses, seriam demitidos sumariamente.
Em São Paulo, o governador
Geraldo Alckmin nomeou um jovem secretário particular, Ricardo Salles, que foi
fundador de um movimento chamado Endireita Brasil. Questionado sobre o golpe
militar de 1964, Salles condenou a Comissão da Verdade e disse que os militares
não deveriam ser punidos pelos crimes da ditadura, “se é que esses crimes
existiram”. Disse ainda que o Brasil deveria agradecer por ter tido uma
“ditadura de direita”.
Naturalmente, as declarações de Salles
provocaram indignação em todas as pessoas de bom-senso. O escritor Marcelo
Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, que foi sequestrado e
assassinado pela ditadura, exigiu um pedido de desculpas formal do governo
paulista. E mesmo tucanos, como Aloysio Nunes Ferreira e Alberto Goldman,
condenaram publicamente o desrespeito do assessor de Alckmin diante de fatos
históricos incontestáveis.
Indagado a respeito, Alckmin se calou. Disse
que não comentaria uma opinião pessoal de um assessor. Ocorre que o reacionário
Ricardo Salles não manifestou uma posição apenas pessoal, sobre se prefere o
verde ou o azul, a chuva ou o sol. Manifestou uma posição política, que agride
e ofende vítimas da ditadura. Mais: dada a sua posição próxima ao governador,
sua opinião contamina o Palácio dos Bandeirantes como um todo, jogando por
terra iniciativas recentes do governo Alckmin, como a abertura dos arquivos do
Dops, órgão da repressão política, ao público.
Alckmin terá, em 2014, a mais dura eleição
que o PSDB já enfrentou em
São Paulo, depois de um ciclo de 20 anos no poder. Além do
desgaste de material, já apontado por lideranças como o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, o PT ganhou musculatura nas eleições municipais e
nunca esteve tão otimista em relação ao Estado mais próspero do País como
agora.
Diante desse cenário, Alckmin ampliaria
suas chances se, além da imagem de bom moço, investisse mais em políticas
sociais, como fez, por exemplo, ao adotar uma política de cotas nas
universidades paulistas. O “endireitamento”, no entanto, tornará ainda mais
estreito seu potencial de votos. Portanto, se Alckmin não for capaz de demitir
Salles por convicção, deveria fazê-lo por pragmatismo político.”
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