Marin, da CBF, não joga no time de Dilma


Bob Fernandes, Terra Magazine

“A Comissão Nacional da Verdade investiga a violação de direitos humanos nas ditaduras brasileiras, da ditadura de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, a atos da ditadura que se arrastou de 1964 a 1985. Na segunda e terça-feira próximas, a Comissão da Verdade vai decidir se convoca o presidente da CBF. Há um consenso pela convocação de José Maria Marin.

Vladimir Herzog dirigia o jornalismo da TV Cultura em 1975. A 9 de outubro daquele ano, Marin, deputado pela Arena, criticou a TV Cultura num aparte a um discurso. Disse:

- É preciso, mais do que nunca, uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar, não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos.

No dia 24 de outubro daquele 1975 Herzog foi depor no DOI-CODI, à Rua Tutóia, na Vila Mariana. O DOI-CODI era um tenebroso centro de torturas a presos políticos. No DOI-CODI, Herzog foi assassinado. Um ano depois, em novo discurso, Marin fez rasgados elogios ao delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Fleury era um delegado cedido ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), a polícia política da ditadura. O delegado foi e será sempre um símbolo da tortura e da barbárie. Era acusado de pertencer, também, ao Esquadrão da Morte. Fleury morreu em 79; supostamente afogado. Existe a suspeita de que tenha sido assassinado por questões internas da própria ditadura.

Nesta semana, Ivo, filho de Vladimir Herzog, e o deputado Romário (PSB-RJ) foram à sede da CBF. Entregaram um pedido com 54 mil assinaturas. O que se pede é simples: "Fora Marin". Romário preside a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara.

É muito pouco provável que Marin abra mão de dirigir a CBF, a rigor, uma entidade privada. Mas há outras pedras no caminho do presidente da CBF até o dia D da Copa do Mundo.

 O ex-deputado Carlos Araújo é ex-marido de Dilma Rousseff. Ele é o pai de Paula, a filha da presidente, e avô de Gabriel, o neto de Dilma.

À época da ditadura, Carlos Araújo foi torturado por duas vezes. Da mesma forma, a presidente Dilma foi torturada por agentes da ditadura. E aí está o problema para Marin.

Marin, como presidente da CBF, preside também o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo. O presidente do Comitê estará, obrigatoriamente, na abertura da Copa. E deverá ter a seu lado, no mínimo na mesma foto, a presidente da República.

Por tudo que já se sabe, a presidente Dilma Rousseff não está disposta a ter a seu lado -com bilhões de telespectadores a assistindo em todo o mundo- alguém acusado de fazer elogios públicos à ditadura e a torturadores.”

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