Goiás é ‘omisso, inoperante ou envolvido’ com assassinatos, acusa ministra


Ministra Maria do Rosário ao lado de
Rogério Sottili, secretário paulistano
de Direitos Humanos
(Foto: Divulgação/Prefeitura de São Paulo)

Durante anúncio de federalização dos crimes contra 29 moradores rua em Goiânia, Maria do Rosário faz duros ataques à falta de atuação do estado no combate a grupos de extermínio


A secretária nacional de Direitos Humanos, ministra Maria do Rosário, fez ontem críticas duras à falta de atuação do Estado de Goiás no combate aos grupos de extermínios que desde agosto do ano passado mataram 29 moradores de rua na capital Goiânia, a 200 quilômetros de Brasília, sem que ninguém até agora tenha sido preso.

Ao pedir a federalização de todo o processo de investigação policial e judicial sobre as mortes, a ministra acusou, em tom de desabafo, o aparelho de Estado goiano de “omissão, inoperância ou envolvimento” com os crimes.
Goiás é governada por Marconi Perillo (PSDB), que foi flagrado pela Polícia Federal em conversas e negócios comprometedores com o ex-senador do DEM Demóstenes Torres e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O bicheiro é acusado, nas operações Vegas e Monte Carlo da PF, de comandar o crime organizado em torno de máquinas caça-níqueis no país – cuja base seria justamente Goiás. As investigações vieram a público há um ano. O senador, que também é de Goiás e lá atuava como promotor público, foi cassado; o governador foi poupado. No Congresso Nacional, uma CPI foi instalada para aprofundar as relações políticas e empresariais com o esquema. A CPI do Cachoeira terminou meses depois sem relatório final e “abafada”, na grande imprensa, pelo julgamento da Ação Penal 470, conhecida por mensalão, no mesmo período.

Em nenhum momento, durante o pronunciamento de ontem, Maria do Rosário citou o nome de Perillo ou o episódio Cachoeira. Mas foi bem clara em suas afirmações.

“Não basta federalizarmos, neste caso, a investigação. Não se trata de a Polícia Federal entrar ali para apoio ao estado. Se trata de verificarmos se em Goiânia e em Goiás nós temos no tecido do estado o envolvimento de pessoas com o crime. Portanto (...) precisamos que o inquérito seja federal, que a denúncia seja por parte do Ministério Público Federal e que o julgamento seja por parte das autoridades federais”, afirmou a ministra durante entrevista coletiva na sede da prefeitura de São Paulo, onde esteve para assinar acordos na área de Direitos Humanos com o prefeito Fernando Haddad (PT).

Ela lembrou que entre os três moradores de rua assassinados em Goiânia na semana passada havia uma criança de 11 anos. E disse que o governo da presidenta Dilma Rousseff colocou à disposição do estado e da prefeitura (governada por Paulo Garcia, do PT) programas federais de assistência social, saúde e habitação. “Mas isso não basta”, disse.

“É, de um lado, a ausência de política pública, de acolhida e atendimento [pelo governo de Goiás]; mas, de outro lado, de inoperância ou envolvimento de agentes do estado com a morte desses moradores que estão nas ruas, dado o fato de a investigação não levar à responsabilização de ninguém. Não há ninguém preso, responsável por esses crimes. Será que a vida de uma pessoa que está nas ruas vale menos do que a vida de uma outra pessoa? Nós realmente estamos indignados e mobilizados”, disse Maria do Rosário. “Nós temos criminosos agindo ao mesmo tempo em que as autoridades [estaduais] fecham os olhos e os mantêm impunes”.

Segundo a ministra, ela vai solicitar a federalização dos crimes ainda nesta semana ao procurador geral da República, Roberto Gurgel – que, por sua vez, é acusado de ter “sentado em cima” por dois anos do relatório da PF contra Perillo e Demóstenes Torres, no caso Cachoeira.

Maria o Rosário explicou que o pedido é um procedimento formal e adiantou que já teve uma conversa preliminar com Gurgel.

“O que nos resta, como governo federal e como Secretaria de Direitos Humanos, no dia de hoje, é estarmos peticionando junto ao Ministério Público Federal para a  federalização desses crimes, uma vez que nem a polícia, nem o ministério público, nem o judiciário do estado de Goiás demonstram estar à altura da missão que têm de manter a ordem e os direitos humanos de sua população”, afirmou.

De acordo com ela, além do caso dos moradores de rua, Goiás tem um histórico de violação dos direitos humanos no “período democrático”. Deu como exemplo o “número absurdo” de pessoas que teriam desaparecido depois de serem atendidas pela polícia do estado.

“Então não é natural, não é normal, no estado democrático de direito, viver ou a inoperância ou a omissão ou uma responsabilidade, também, que precisa ser esclarecida”.

A federalização se dará pelo instrumento jurídico IDC – Instituto de Deslocamento Competência. Só houve um caso desses até hoje no Brasil, em 2010, quando o governo federal chamou para si a investigação sobre o assassinato do ex-vereador Manoel Mattos (PT), ocorrido um ano antes numa área de divisa entre Pernambuco e Paraíba. Mattos atuava no enfrentamento a grupos de extermínio nos dois estados.”

Comentários

Anônimo disse…
Marconi Perillo, ou MarCorleone Perillo, como é mais conhecido à boca miúda dos que sofrem seu governo no estado, transformou Goiás em uma máfia criminosa. Nada em Goiás funciona, atualmente, a não ser o grande esquema de apanágios políticos loteando à beira da exaustão cargos comissionados, os imensos gastos em propaganda do governo, e um sistema de aumento de salários para pisos descomunais de delegados para assim impedir que eles investiguem e cheguem à origem do crime. Um delegado de carreira, em Goiás, ganha o absurdo de 17 mil reais por mês! Aumento assinado ano passado por Perillo, coincidentemente na mesma época em que vários podres do governador eram aventados ser expostos para a mídia (aventados, adivinhem por quem? , por qual categoria?); aumento que, na sua previsão, em dois anos equiparará o salário dos delegados a de juízes e promotores. Comparem os salários dos delegados de outros estados, e dá para perceber que aí esconde maracutaia. Um estado silenciado, comprado, omisso, conivente. Mês passado, descobriu-se um esquema de fraude em 9 concursos em Goiás, concursos estes feitos pela UEG, Universidade Estadual de Goiás _ aquela universidade que é a maior da América Latina, por número de unidades (para propiciar o maior cabide de emprego que se tem notícia nas hordas do funcionarismo público), e a pior do país, em questão de qualidade. Notem bem: 9 provas para diversos cargos do estado, estavam com uma sequência fajuta de algarismos de resposta, tamanha a certeza que a facção criminosa do governo tem da impunidade e da estupidez dos goianos. Houve protestos na internet, o MP pediu a anulação e retirada da UEG desses concursos. E o que faz uma juíza do estado, diante uma prova tão evidente de fraude? Mantêm a UEG como feitora dos concursos, alegando que tudo não passava de “falha técnica”. Querem saber para quais cargos eram essas provas: para DELEGADO, ESCRIVÃO E AGENTE DA POLÍCIA CIVIL, SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR E ASPIRANTE. Compra-se seu silêncio.