Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação
“Nos últimos
dias, tem havido grande efervescência política com o lançamento, claro ou
velado, de diversas candidaturas à Presidência da República, inclusive a da
própria Presidenta. A profusão de prováveis candidatos de oposição a Dilma –
estimulados pela mídia - deixa evidente, de cara, que o pessoal do PIG
não acredita que Aécio ou qualquer outro tucano seja capaz de vencer a
eleição. E a direita experimenta seus sonhos de consumo nas figuras de Marina
Silva (nem de direita nem de esquerda, porque tudo que cai na REDE é peixe...),
Eduardo Campos (cujo avô, Miguel Arraes, deve tremer no túmulo com certos
entusiasmos de ocasião destinados ao neto) e até uma outra, que merece aqui
observação mais atenta.
Recentemente – entre os dias
20 e 26.02 - , vimos surgir, nas charges do Chico, cartunista/chargista de
presença diária no “Globo” junto a figuras de “presidenciáveis” – como Marina,
Aécio e Eduardo – a do ministro, Joaquim Barbosa. Nada a objetar, se ele não
estivesse aparecendo, como os outros e com os outros, no estilo “mocinho que
invade o saloon”, em atitude acintosa de oposição à presidenta Dilma. Em uma
delas, a que me parece mais grave, a charge vem acompanhada da mensagem/fala
atribuída aos quatro personagens – Joaquim Barbosa inclusive - e
dirigida à Dilma: “- Eu vou tirar você desse lugar”.
Chico costuma seguir ,
em suas charges, a linha editorial do jornal onde trabalha. Nada
contra: ele tem todo o direito de possuir o posicionamento político-ideológico
da mídia a que serve. Isso não se discute. E é igualmente óbvio que ele
pode fazer humor com as coisas e pessoas que bem entender, assumindo, claro,
suas responsabilidades éticas. Mas é obrigação cidadã
não deixar passar em branco aquilo que – com humor ou sem ele – cheira a
desvio antidemocrático.
No campo político, a charge
envolvendo personagens do nosso dia a dia corresponde a uma tradição e deve ser
saudada como manifestação da liberdade de comunicação e da expressão de ideias.
Isso é ponto pacífico. Creio mesmo que , apesar de pouco republicana, a
colocação do Presidente do Supremo ao lado de políticos oposicionistas mandando
mensagens contrárias à Presidenta é um direito do chargista. La no fundo, ele
pode estar desejando a candidatura do Ministro Joaquim Barbosa a Presidente do
país. Ou pode, o que seria postura lastimável, estar torcendo pela
monitoração do poder executivo pelo poder judiciário.
Sabemos todos que os
humoristas são sempre os primeiros a ser perseguidos por sistemas repressores
de poder. É só lembrar, na história recente do país, a turma do Pasquim... No
Brasil de hoje, felizmente, é livre a comunicação. Mas é igualmente
livre a interpretação que se possa fazer das intenções de quem atua na
mídia, humorista ou não. O episódio das charges do Chico pode ser irrelevante
para muitos. E ele pode nem ter percebido o sentido que se poderia dar à sua
criação. Mas assim como “de grão em grão a galinha enche o papo”, de pequenos
golpes em pequenos golpes pode-se chegar a um grande ataque às instituições.
De qualquer forma, nada
tenho contra o cartunista, apenas divergindo de suas ideias. Tenho certeza de
que ele não se importará nem um pouco com os meus gostos, mas, entre os
diversos Chicos brasileiros, ideologicamente prefiro o Chico Buarque de Holanda
– pela coerência ao longo da vida – e o Chico Mendes – morto em defesa dos
seringueiros massacrados pelo poder. E quanto ao humor, minha predileção vai
para o Chico Anysio, pela sua criatividade não pautada...
Provoca estranheza, isso
sim, que o Presidente do STF se deixe retratar dessa forma, sem qualquer
palavra a respeito. Não é por falta de espaço na mídia, onde ele,
seguidamente, vem opinando sobre diversos problemas da sociedade. Não por
acaso, no dia 01.03 ele foi personagem central da coluna do Merval Pereira, com
considerações do colunista sobre a possibilidade de vir a ser candidato à
Presidência da República. E é claro que ele tem direito a postular o cargo,
como qualquer cidadão brasileiro. Mas, em nome da independência entre os
poderes constituídos, obtida a duras penas pela democracia brasileira, e
considerada, fundamentalmente, a sua condição de magistrado - julgador,
inclusive de feitos em que o poder executivo está envolvido -, ele
deveria contestar claramente uma possível inferência, extraída da charge, de
que – como presidente do Supremo que é - estaria “fazendo o jogo” da oposição
ao atual Governo, eleito, diga-se, pela expressiva maioria do povo
brasileiro.
No momento em que o julgamento do Mensalão,
aplaudido por muitos, é considerado por outros um episódio de cartas marcadas,
político em sua essência, onde terá faltado a observância a princípios básicos
do direito, com casuísmos e inversões doutrinárias, Joaquim Barbosa deveria
ser, no mínimo por sagacidade e prudência, o primeiro a rejeitar tal postura a
ele atribuída, porque ele representa o poder maior da justiça neste país e não
pode, em hipótese alguma, deixar que se sobreponha a essa posição a
interpretação de que age politicamente, seja atrelado a um grupo , seja a serviço
de seus interesses pessoais. A não ser, é claro, que concorde com a insinuação,
hipótese em que deveria afastar-se do Supremo e dedicar-se aos projetos
de um candidato oposicionista. Afinal, de todas as autoridades maiores dos
poderes do país – que não valem pelo que são individualmente, mas pelo que
encarnam como representantes dos interesses do povo - , esperam-se,
permanentemente e sem cochilos, posturas condizentes com os
ideais republicanos que se obrigam a defender.”
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