Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho
“A presidente Dilma Rousseff volta nesta
Quarta-feira de Cinzas para Brasília, depois de passar o Carnaval numa praia
isolada da Marinha em Salvador, com uma prioridade na cabeça: votar até abril a
destinação dos royalties do pré-sal para a Educação.
O projeto do governo, que já está no
Congresso Nacional, caso seja aprovado, pode acabar com a guerra entre os
Estados produtores e não-produtores de petróleo e certamente será transformado
numa das principais bandeiras de Dilma na campanha pela reeleição. Afinal,
investir em Educação de qualidade é a grande prioridade nacional, e não só da
presidente.
Como todo ano no Brasil só começa para
valer na segunda-feira após o Carnaval, a presidente poderá ter logo no dia
seguinte, na votação do orçamento, uma ideia de como ficou sua base aliada após
a eleição dos novos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara,
Henrique Alves, que aumentou o cacife do PMDB.
Até hoje de manhã, os articuladores
políticos do governo não estavam preocupados com a votação em si do orçamento,
que consideram tranquila, quase uma obrigação do Congresso, mas com a reação
dos parlamentares diante da liberação de verbas para as suas emendas, que deve
acontecer logo, embora com valores inferiores aos que eles gostariam de
receber.
Se resolver a questão dos royalties do
petróleo, transformando o limão em limonada, é o grande objetivo do governo no
campo político, na economia o desafio não é menor: fazer o PIB crescer em torno
de 3,5% e não deixar a inflação subir. No primeiro trimestre, o índice da
inflação pode passar dos 6%, o que é preocupante, mas há indicações de que as
coisas devem melhorar a partir de abril.
"Já está havendo uma reação da
economia. Teremos uma super safra agrícola e outros índices que estão chegando
também mostram um quadro favorável", me disse um dos interlocutores da
presidente Dilma.
O que certamente não será do agrado dela ao
voltar à sua mesa no Palácio do Planalto é a informação divulgada hoje pelo
jornal "O Globo" dando conta de que o governador pernambucano Eduardo
Campos comunicará ao ex-presidente Lula, num próximo encontro que os dois estão
agendando, sua decisão de não aceitar a vaga de vice de Dilma e de concorrer
ele próprio à Presidência da República em 2014.
Caso se confirme esta posição de Campos, o
que levaria o PSB a deixar a base aliada da presidente, muda bastante o cenário
da sucessão presidencial. Enquanto o tucano Aécio Neves faz de conta que a
corrida sucessária não é com ele e Marina Silva corre atrás de um partido para
chamar de seu, mais do que nunca Dilma precisará do PMDB, além de segurar
partidos menores da sua base aliada.
Por isso mesmo,ela tem dedicado parte do
seu tempo a conversar com líderes partidários, do PR ao PDT, como começou a
fazer antes do Carnaval, e deverá intensificar durante a Quaresma. A grande
dificuldade de Eduardo Campos será exatamente encontrar aliados capazes de
montar palanques fortes que carreguem seu sonho presidencial para além do
Nordeste.
Como sempre, a fidelidade ou a pulada de
cerca dependerão dos números da economia. E é no ano que começa na próxima
semana que se decidirá quem ficará com quem na sucessão presidencial. Todos
sabem disso.”
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