Mauro Santayana, Blog: MauroSantayana
“Duas notícias
ocuparam os meios de comunicação ontem, e nessa ordem: a visita ao Brasil da
dissidente cubana Yoani Sanchez, e o lançamento, pela presidente da República,
do Programa Brasil sem Miséria.
Comecemos pela
que ocupa maior espaço, e com uma dúvida não só do colunista: quem está pagando
pelo tour internacional da bloguista de Havana, que se diz perseguida em seu
país? Não é, evidentemente, o governo cubano, atacado, todos os dias, pela
dissidente. É estranha a situação da nova musa revolucionária do Caribe. Ela
passou dois anos na Suíça, quando – segundo se sabe – só as pessoas de estrita
confiança do governo cubano podiam deixar o país.
Seria bom que
ela revelasse como obteve o passaporte então. Como sabemos, Cuba é sempre um
mistério. E no mistério cubano, é curiosa a situação dessa senhora que está
zanzando pelo mundo, começando pelo Brasil, para denunciar o regime socialista
em declínio na pátria de Maximo Gomez e José Marti.
Enfim, dentro de
alguns dias, a senhora Sanchez seguirá para a Espanha onde, naturalmente,
receberá as devidas homenagens do ínclito Rajoy e do sábio e magnânimo monarca,
Juan Carlos, de seus filhos e do genro metido em falcatruas.
Cuba não é o
melhor nem o pior país do mundo – mas seus líderes tiveram a coragem de
enfrentar o poderoso vizinho e opressor histórico, com o apoio da maioria de
seu povo. E coragem maior ainda de tentar criar uma sociedade sem ricos e sem
pobres. Não conseguiram, e buscam reorganizar o país e o estado, depois do
malogro. Seu projeto frustrou-se, mas os seus sacrifícios e o seu sonho devem
ser respeitados.
A outra notícia
é mais importante. Estamos, no Brasil, buscando construir sociedade
igualitária, mediante os processos políticos e administrativos de uma república
democrática. É ação coerente com o velho programa da social-democracia
européia, de busca da igualdade sem prejuízo da liberdade, mediante a luta
política; da revolução sem armas e sem a ditadura partidária sobre o Estado. Não
inovamos em nada. O
programa de inclusão social mediante subsídios do Estado aos mais pobres tem,
entre outros precedentes, o do New Deal, de Roosevelt, que salvou a economia
norte-americana durante a Grande Depressão e, em conseqüência, ajudou o mundo,
no esforço de guerra, a livrar-se da peste do nazismo.
Não devemos
hostilizar a blogueira cubana. Ela tem o direito – e, como vemos, facilitado
pelo governo de Havana – de exibir sua popularidade e gozar do aplauso dos
setores da direita brasileira que, pelo que se informa, ajudam a subsidiar sua
vida confortável em Cuba e no estrangeiro.
É melhor tratar
de nossos próprios problemas, que não são poucos, e enfrentar, com prudência e
sem arroubos, as dificuldades econômicas previstas para o tempo próximo.”
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