Paulo Moreira Leite, ISTOÉ
O negócio é dizer que nossos políticos
chegaram ao fim da linha, uma espécie de fim de raça que poderia até
justificar... (não vamos falar isso em voz alta porque tem criança acordada,
né?)
O costume é sentir saudade. Já vi gente com saudades coletivas, de uma geração inteira. Mas também temos saudades individualizadas.
O nome sempre lembrado é Ulysses Guimarães, o que é um tremendo problema, considerando que o patrono da Constituição cidadã nos deixou em 1992. Sou admirador de Ulysses, mas pergunto: não apareceu nada de bom na política brasileira depois dele, que estaria com 95 anos se não tivesse sido levado por uma tragédia de helicóptero no litoral de São Paulo?
O costume é sentir saudade. Já vi gente com saudades coletivas, de uma geração inteira. Mas também temos saudades individualizadas.
O nome sempre lembrado é Ulysses Guimarães, o que é um tremendo problema, considerando que o patrono da Constituição cidadã nos deixou em 1992. Sou admirador de Ulysses, mas pergunto: não apareceu nada de bom na política brasileira depois dele, que estaria com 95 anos se não tivesse sido levado por uma tragédia de helicóptero no litoral de São Paulo?
Ulysses era uma raridade raríssima.
Mas o esforço para apresentá-lo como uma espécie de santo do consenso nacional inclui apagar uma campanha sórdida contra sua liderança no Congresso durante a Constituinte.
Depois que Ulysses passou a resistir a entregar o poder aos conservadores, teve início uma campanha despudorada para tentar desmoralizá-lo, que incluiu até médicos dispostos a produzir diagnósticos telepáticos que questionavam sua saúde mental por meio da imprensa –apenas porque ele não queria entregar direitos e obrigações aos senhores de sempre.
As nostalgias coletivas são mais complicadas. Fica feio falar bem de João Goulart e Getúlio, que os salões chiques – alguns com convidados de esquerda – chamam de populistas.
Sobra quem? Eurico Dutra, representante da ala “germânica” do Estado Novo que assumiu a presidência e abandonou o padrinho, como gostariam que Dilma tivesse feito com Lula? Jânio Quadros, o breve?
Também não se pode falar bem de Juscelino para plateias maiores porque logo aparece alguém para dizer que ele ficou rico em Brasília.
Nada se provou contra JK, mas antes mesmo do Inquérito Policial Militar contra Juscelino nós já sabíamos que as provas, contra determinados demônios, não têm importância, vamos combinar.
Fernando Henrique foi um presidente de méritos, mas depois que nem os tucanos quiseram assumir sua defesa na hora certa...
Sobra, a rigor, uma geração de golpistas ligados à UDN. Muitos tinham diploma universitário, alguns haviam até estudado fora.
Eles ajudaram a colocar o PCB na ilegalidade, proibiram os trabalhadores de formar uma central independente e, a cada piscar, de olhos tentavam revogar a CLT.
Forçaram a crise que levou Getúlio ao suicídio e em seguida tentaram impedir a posse de Juscelino. Articularam o golpe contra Goulart com ajuda inestimável da imprensa, que se encarregou de mobilizar os empresários e a classe média contra um presidente constitucional.
A ideia de que os jornais apenas “apoiaram” o golpe é falsa. Muitos foram além. Estiveram dentro dele, antes e depois da derrubada de Goulart. Debateram listas de cassações.
É dessa turma que temos saudade?
“Canalhas!”, gritou Tancredo Neves para colegas de Congresso que, em 1 de abril de 64, participaram da farsa ao decretar que a presidência da República se encontrava vaga – o que permitia empossar um boneco de ventríloquo do PSD em seu lugar, até que Castello Branco, o preferido do governo americano, fosse escolhido para o posto. Nem o chefe do golpe aquela turma da saudade escolheu.
Qualquer manual de sociologia ensina que se costuma embelezar o passado como uma forma de cobrir o presente de feiura. Mas é difícil. O desemprego é o mais baixo da história. A renda continua sendo distribuída, apesar do crescimento baixo.
A turma da direita que usava argumento de esquerda – como o juro nas alturas – para bater no Planalto agora tem de ficar quieta ou procurar outro argumento.
As histórias que rondam Renan merecem uma explicação que ele não ofereceu. Concordo.
Mas ninguém se preocupava com dramas semelhantes quando ele era ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Isso aí. Ministro da Justiça. Tinha a Polícia Federal na mão.
Ou, mais atrás, quando Fernando Collor era o queridinho da turma da saudade, feliz porque conseguira emplacar o candidato conservador na primeira eleição direta depois da ditadura. Renan estava ali, no jantar de Pequim onde aquela aventura começou.
É quando se torna aliado de Lula e Dilma que Renan se torna inaceitável. Leva nossos observadores a sentir saudade.
Deve ser pura coincidência, vamos combinar.”
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