Altamiro Borges, Blog do Miro
“O discurso de Lula na 3ª Conferência
Mundial pelo Equilíbrio do Mundo, ocorrida nesta semana em Havana, ajuda a
entender porque as elites têm tanto ódio do ex-presidente e ex-líder operário. Ele
tocou em vários pontos que incomodam a direita nativa e internacional. A reação
da mídia privada foi sintomática. Parte dela preferiu omitir as suas palavras e
ocultar Cuba, que sediou o evento patrocinado pela Unesco/ONU. Outra parte
preferiu desqualificar o “último reduto do comunismo”, como noticiou a Folha, e
satanizar Lula.
No que se refere à
política externa, Lula fez questão de espinafrar a postura arrogante e imperial
dos EUA. “Não existe mais nenhuma razão de se manter o bloqueio a Cuba a não
ser a teimosia de quem não reconhece que perdeu a guerra, e perdeu a guerra
para Cuba”, afirmou. Ele também conclamou o presidente reeleito Barack Obama “a
ter a mesma ousadia que levou o seu povo a votar nele” e a mudar os rumos das
relações políticas e econômicas dos EUA com Cuba e com o conjunto do continente
latino-americano.
Após homenagear o presidente Hugo Chávez,
que está internado em Havana para o tratamento de um câncer, Lula insistiu na
urgência da integração soberana da América Latina. “Vocês não podem voltar para
suas casas e simplesmente colocar isso [o evento] nas suas biografias. É
necessário que vocês saiam daqui cúmplices e parceiros de uma coisa maior, de
uma vontade de fazer alguma coisa juntos mesmo não estando reunidos
[fisicamente]”. Para ele, a integração regional é decisiva para o futuro dos
povos do continente.
O ex-presidente destacou os avanços
promovidos pelos governos progressistas da região. “Quem imaginava que um
índio, com cara de índio, jeito de índio, comportamento de índio, governaria um
país e, mais do que isso, que seu governo daria certo?”, indagou Lula ao se
referir a Evo Morales. Estes avanços, afirmou, despertam o ódio das elites
reacionárias da região. Ele lembrou a pressão da direita brasileira para que
“um ex-metalúrgico brigasse com um índio” quando o governo boliviano estatizou
a empresa de petróleo.
Lula também criticou a mídia partidarizada
do continente. Irônico, afirmou: “Eu nem reclamo, porque no Brasil a imprensa
gosta muito de mim... Mas eu nasci assim, cresci assim e vou continuar assim, e
isso os deixa [os veículos de imprensa] muito nervosos... Eles não gostam da
esquerda, não gostam do Chávez, Correa, Mujica, Cristina [Kirchner] e do Evo
Morales. E não gostam não por nossos erros, mas pelos nossos acertos”. Para
ele, as elites não “gostam que pobre ande de avião, compre carro novo ou tenha
conta bancária”.
Em Cuba, a ilha revolucionária que enfrenta
o império há 53 anos, Lula enfatizou as teses progressistas que tanto incomodam
a direita nativa e mundial. O jornal Estadão, que não esconde sua visão
conservadora e colonizada, não vacilou em condenar as suas corajosas palavras. Em
editorial raivoso nesta sexta-feira, o jornal confirmou o ódio das elites às
forças de esquerda. Tratou o evento em Havana como “um daqueles convescotes
ideológicos cheios de ar quente e vazios de ideias” e criticou os governos
progressistas da região.
O que mais irritou o Estadão, porém, foram
as críticas de Lula à imprensa partidarizada. “A mídia, a mesma que o ajudou a
decolar do sindicalismo para a grande política - como certa vez, em um momento
de franqueza, ele admitiu -, é o bode expiatório de há muito escolhido para
livrar o PT do acerto de contas com seus próprios malfeitos”, atacou. O jornal
só deixou de explicar que também ajudou a criar o clima para o golpe de 1964 e
que elegeu Lula como o seu inimigo principal quando este não seguiu o seu
enquadramento liberal.”
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