Emir Sader: 'Desafio é quebrar hegemonia do capital financeiro'


No ato comemorativo dos dez anos de governo do PT, sociólogo falará sobre livro que traz artigos de intelectuais e balanço inédito feito pelo ex-presidente Lula sobre o período


Um dos que usarão a palavra hoje (20) em São Paulo no ato comemorativo de dez anos de governo do PT no Brasil, o sociólogo e professor Emir Sader pretende aproveitar a oportunidade para estimular um processo de reflexão nacional sobre os avanços, problemas e futuros desafios do projeto de governo democrático e popular iniciado com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência da República em 2003.

Organizador e co-autor do livro “Dez Anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil”, que reunirá artigos de 23 pensadores brasileiros de esquerda e tem lançamento previsto para abril pela Editora Boitempo, Emir será porta-voz de uma mensagem dos intelectuais aos políticos e militantes petistas: é preciso continuar avançando.

No caminho do projeto do governo de centro-esquerda, o desafio da vez, diz o professor da USP e da Uerj, é “quebrar a hegemonia do capital financeiro que resiste aos impulsos de continuidade do desenvolvimento econômico do Brasil”. Emir afirma que esse setor se colocará de forma permanente como obstáculo aos avanços sociais pretendidos no país. “O governo está fazendo todas as concessões que eles [o setor financeiro] pedem e consideram necessárias, praticamente sem contrapartida. Eles estão viciados no investimento especulativo e acabam não respondendo aos incentivos que o governo tem propiciado. Essa é a questão central, por detrás da qual está a hegemonia e a sobrevivência do capital financeiro na sua modalidade especulativa”, diz.

Em que pese a necessidade de continuar avançando, Emir adianta que o balanço sobre a década de pós-neoliberalismo no Brasil contido no livro é essencialmente positivo. “Foi um processo que transformou o Brasil para melhor por caminhos que não necessariamente eram os previstos. Muitas das transformações se deveram à intuição e ao pragmatismo do Lula e não houve uma reflexão em relação a isso. Então, a comemoração de dez anos de governo é um bom momento para pensar o que foi feito e o que não foi feito e qual é a projeção de futuro. Ainda mais porque há perspectiva concreta de continuidade do governo. Então, com mais razão ainda é preciso ter uma consciência maior das razões de cada política e dos obstáculos de cada política para poder pensar a superação desses obstáculos.”

Balanço de Lula

Emir Sader revela que a publicação será “um livraço de umas 400 páginas” e, além dos artigos de opinião, trará uma entrevista com o ex-presidente Lula considerada antológica por quem já a leu. “Temos uma entrevista longa do Lula, que, pela primeira vez, faz uma reflexão de balanço do seu governo”, diz.

Nos artigos de opinião, os temas vão desde a avaliação da crise financeira e seus reflexos sobre a situação no Brasil e no mundo até a análise detalhada da política interna brasileira. “Haverá análises sobre as várias políticas setoriais, em relação a questões de gênero e de etnia, as questões sindicais, ecológicas e dos meios de comunicação, entre outras”, afirma Emir.

Para o time de autores, Emir pensou em “alguns dos principais intelectuais do país que tivessem uma perspectiva identificada com esse processo, mas com visões críticas também”. Entre os autores, há vários nomes de peso como José Luís Fiori, Luiz Gonzaga Belluzzo, Marilena Chauí, Marcio Pochmann, Tânia Bacelar, Venício Lima, Marco Aurélio Garcia e Liszt Vieira, entre outros. “O livro apresentará vários pontos de vista, mas no marco de quem considera que há transformações positivas nos dez anos de governo”, observa o sociólogo.

Uma turnê nacional de lançamento do livro está sendo organizada e terá início no fim de abril. “Estou fechando a edição esta semana. Daqui a dois meses o livro deverá sair com um grande seminário em São Paulo e depois dezenas de seminários em todo o Brasil. Temos de nacionalizar essa reflexão.”

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