“Jornal O Globo, que até ontem era o mais
alarmista em relação ao iminente apagão, reconhece, em editorial, que as chuvas
de verão, que acontecem todos os anos, farão com que o risco de escuridão
desapareça; como adiantou 247, as águas de janeiro já começam a inundar os
catastrofistas
Neste
ano, não haverá apagão. E quem reconhece é o jornal O Globo, que, até ontem,
vinha sendo o mais catastrofista em relação a um possível colapso do setor
elétrico. Nas últimas edições, tanto o jornal como seus principais colunistas,
Merval Pereira e Miriam Leitão, vinham colocando o governo Dilma num corredor
polonês em razão da iminente escuridão. Segundo Merval, nada se fez no setor
elétrico nos últimos dez anos. De acordo com Miriam, era hora de reconhecer a
lambança.
Com
as chuvas de janeiro, que acontecem todos os anos, o quadro mudou e inundou os
catastrofistas (leia mais aqui). E, nesta sexta-feira,
o próprio jornal O Globo reconhece, em editorial, que se chover no verão como
sempre acontece, o risco de apagão estará descartado. Diante do quadro, fica a
pergunta: São Pedro é petralha ou as chuvas eram previsíveis?
Leia, abaixo, o editorial do Globo desta sexta-feira:
Sinal de alerta permanecerá aceso no setor elétrico
Continuamos
nas mãos de São Pedro, e, se as chuvas de verão vierem como habitualmente, o
risco de racionamento de energia elétrica desaparecerá no curto prazo, como
frisaram as autoridades do setor anteontem em Brasília. Mas o que
ocorreu este ano é um sinal de alerta que ainda se manterá aceso, pois preocupa
o fato de o nível dos reservatórios das hidrelétricas ter chegado ao piso da
curva de segurança em pleno mês de janeiro. Se as chuvas não forem abundantes a
ponto de os reservatórios verterem água (ou seja, se não encherem 100%), é bem
provável que as usinas termoelétricas não sejam desligadas este ano, para se
poupar ao máximo as hidrelétricas.
Exatamente
pela existência desse parque gerador termoelétrico é que a situação hoje é
diferente da que motivou o racionamento em 2001/2002. Naquela época o governo
havia lançado um programa prioritário de construção de termoelétricas;
tentou-se correr contra o tempo, porém as usinas não estavam prontas quando
mais se precisava delas. A lição foi aprendida e desde então não mais se deixou
de licenciar esse tipo de usina. Este ano várias entrarão em operação
exatamente no Nordeste, onde são mais necessárias.
De
qualquer forma, diante das dificuldades para licenciamento ambiental de
hidrelétricas — os principais aproveitamentos agora estão na Amazônia, região
sensível não só do ponto de vista da natureza, mas também aos mais variados
lobbies — o funcionamento das termoelétricas tende a ser mais permanente que
emergencial. Isso deve mexer com a estrutura de custos da energia elétrica no
país, já considerado elevado e capaz de inviabilizar muitas atividades
produtivas que antes se mostravam competitivas. É uma questão a ser discutida e
que possivelmente envolve o uso mais racional da eletricidade. Programas de
eficiência energética já não são conduzidos com a mesma ênfase dada logo após o
racionamento de 2001/2002.
Há
que se considerar que termoelétricas dependem de combustíveis fósseis, alguns
mais e outros menos poluentes. O gás natural, que é a menos poluente,
infelizmente ainda não está disponível em abundancia no país. O Brasil importa
grande volume da Bolívia e complementa essa compra com gás natural liquefeito
adquirido em outros fornecedores, a preços bem salgados. Com o pré-sal a oferta
doméstica deve aumentar, mas não o suficiente para que se possa abrir mão das
importações. Além disso, o gás natural não tem uso apenas térmico: é insumo
para diferentes ramos de indústria e serve como combustível automotivo.
Nesse
quadro, a opção nuclear precisa ser revigorada. Os planos para a construção de
quatro novas usinas no Nordeste, já a partir da conclusão de Angra 3 (prevista
para 2016), que tinham sido engavetados após o acidente de Fukushima, merecem
ser novamente avaliados.
E
por último, mas não menos importante, é crucial melhorar o gerenciamento das
obras no setor, para evitar os vergonhosos atrasos existentes.”
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