“Tive
a ideia, ainda muito incipiente, de constituir um fundo de investimento privado
para financiamento da imprensa alternativa no Brasil – nos moldes dos fundos de
investimento e/ou fundos de pensão
Lula Miranda, Brasil 247
Tá
certo que alguns vão dizer que a expressão “bom burguês” traz em si uma
“contradição em termos” ao unir dois qualificativos excludentes (sendo um
“substantivado”) e incompatíveis entre si: “bom” e “burguês”. A opinião é
livre. Provavelmente vai ter até leitor, ainda mais radical, que dirá que
“burguês bom é burguês morto”. Esse tipo de formulação, desgraçadamente, já
teve lugar na história. Tem opinião para todos os gostos. Reconheço como,
digamos, “legítimas” todas essas opiniões. Mas já sou um “jovem senhor” e esses
arroubos radicais já se perderam há muito pelo caminho. São mais próprios e
caros aos mais jovens, decerto.
Não
pretendo tampouco, esclareço, abolir a luta de classes e/ou sequer
empanar/confundir a essencial consciência de classes. Bem sei que
operário é operário; patrão é patrão. Mas com o outro Lula - o Luiz Inácio -
aprendi da oportunidade de se fazer uma necessária ponte que leve a um
entendimento e colaboração possíveis. Pois esse é o caminho para se construir
um “capitalismo de Estado” ou um “socialismo de mercado” – como queira. Mas
esse é outro assunto e já estava fugindo do tema a que me propunha
escrever.
Bom
burguês, você deve se lembrar, em parcas palavras, é aquele personagem
egresso das classes privilegiadas que se une à luta revolucionária para
financiá-la e assim supostamente viabilizá-la, dando sua contribuição à causa. Personagem
bastante citado na literatura. Já foi até tema de filme. Lembrado isto,
cabe perguntar e esclarecer: afinal de contas, para quê procuro um bom burguês?
Explico-lhes.
Tive
a ideia, ainda muito incipiente, embrionária, de constituir um fundo de
investimento privado para financiamento da imprensa alternativa no Brasil – nos
moldes dos fundos de investimento e/ou fundos de pensão. A proposta inicial é
constituí-lo com doações de empresários, Fundações sem fins lucrativos
(nacionais e estrangeiras), de filantropos e cidadãos comuns – não seriam
aceitas, por exemplo, doações de partidos políticos ou empresas que se utilizam
de trabalho escravo ou que desrespeitam o meio-ambiente e os direitos do
trabalhador.
“Esse
Lula Miranda é mesmo um poeta, um sonhador” – você já deve estar aí fulminando
essa minha ideia. Não é mesmo? Mas já estou acostumado à desconfiança, e até
mesmo desdém, para com as propostas “novidadeiras” (ou nem tanto). Lembro-me
do dia em que, isso já faz uns 12 anos, mais ou menos, em meio a uma assembleia
da minha categoria profissional, propus que fosse incluído na pauta de
reivindicações o fornecimento de vale-refeição nas férias. Muxoxos e risos
sarcásticos ecoaram no auditório. Mas não me dei por vencido. Insisti e lembrei
que nas férias se recebe salário, e que, se recebemos salário, teríamos
que receber também os demais benefícios – tais como vale-refeição e
vale-alimentação. Expliquei ainda que algumas poucas empresas já
forneciam vale-refeição aos empregados nas férias e que o fato de nós não
recebermos denunciava o nosso atraso com relação às conquistas dos outros
trabalhadores. Hoje, naquela empresa em que trabalhei, todos recebem o
vale-refeição nas férias e ninguém lembra que isso começou de uma ideia
aparentemente “sem pé nem cabeça”.
Não
tenho dúvida de que deveria ser uma política de Estado, e não de governo ou de
iniciativas como essas, o financiamento dos pequenos veículos, a democratização
da mídia e a livre circulação de ideias, mas, como disse antes, já estou
acostumado ao desdém para com as ideias e propostas “novidadeiras”. E, além
desse suposto “desdém”, deparamo-nos com os interesses de poderosos
conglomerados de comunicação e dos políticos – alguns não por mera coincidência
ou obra do acaso donos desses conglomerados.
O
cerne dessa proposta é que os comunicadores não sejam dependentes de partidos,
governos ou de grandes empresas. Para que assim possam manifestar de forma mais
livre suas opiniões e agir de forma mais independente e vigilante com relação
aos poderes constituídos – função primordial de uma imprensa livre, hoje
completamente corrompida.
Esse
Fundo seria administrado por pessoas de reconhecida competência e idoneidade na
administração de fundos de investimentos. Suas contas e balanços seriam
publicados, diariamente, na internet e seriam fiscalizados periodicamente por
auditores independentes, para tanto contratados. Os doadores ou colaboradores
poderão, a qualquer tempo, solicitar uma prestação de contas ao Fundo. Tudo na
maior transparência e dentro das regras do capitalismo – mas a serviço de um
ideal humanista ao qual se subordina.
Todos
teriam direito a requisitar e receber recursos desse Fundo? Sim, pequenos e
grandes blogueiros – das mais diversas opiniões e ideologias. Mas com a
condição de já ter de alguma maneira contribuído ou colaborado para a
arrecadação de recursos [por exemplo, colocando um banner da propaganda do
Fundo em seu blog] e, claro, de efetivamente ter público ou leitorado. O blog
do “eu sozinho” e os “diletantes” não estariam contemplados.
Mas...
Isso é apenas uma ideia, incipiente como disse, mas que já compartilhei com
alguns poucos editores da blogosfera, e que agora compartilho com os leitores
com o intuito de colher as milionárias contribuições de todos os erros. E assim
prosperar. Ou mesmo malograr, se for o caso.
A arrecadação para o Fundo
Democracia & Mídia [ou Found for Media and Democracy – em inglês] começa agora – e começa
pela doação de sugestões e ideias. Dê a sua.”
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