Fernanda Cruz, Agência Brasil
“Ao visitar hoje (29) o antigo prédio do
DOI-Codi, a ex-presa política Darci Miyaki disse que não gosta nem de passar
perto do local, onde foi torturada durante a ditadura militar (1964-1985). "Depois
de 41 anos, é a primeira vez que eu volto para cá”, contou Darci, que foi ao
prédio em companhia de outros ex-presos políticos para fazer um reconhecimento
do local. Posteriormente, eles vão pleitar a transformação do prédio em um
museu ou memorial.
De acordo com Lúcio França, membro da
Comissão dos Direitos Humanos da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), o
objetivo é preservar o prédio do Destacamento de Operações de Defesa
Interna-Centro de Operações de Defesa Interna para que, futuramente, sirva como
um memorial pelas vítimas ou um Museu da Tortura, como o que existe em
Amsterdã, na Holanda. "Pretendemos evitar que [o prédio] seja destruído ou
adulterado. O lugar está se deteriorando e nós gostaríamos que fosse
preservado”, disse França.
Hoje, o prédio localizado na Rua Tutóia,
921, serve como 36º Distrito Policial da capital e também abriga um
estacionamento, onde é deixada a subfrota do Departamento de Homicídios e de
Proteção à Pessoa (DHPP).
Foi a primeira vez que representantes de
entidades de defesa dos direitos humanos, como o Grupo Tortura Nunca Mais, o
Comitê pela Memória, Verdade e Justiça e a Comissão dos Direitos Humanos da
OAB-SP fizeram uma vistoriano imóvel.
Na época em que ali funcionou o DOI-Codi,
várias personalidades foram torturadas no prédio. Entre elas, a presidenta
Dilma Rousseff e o jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975, em uma das salas
de interrogatório do antigo imóvel. Segundo Lúcio França, a importância
histórica do prédio poderá ser reconhecida pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), que
estuda seu tombamento.
Para Darci, que ficou presa no DOI-Codi
durante sete meses e ficou estéril, em consequência das torturas, a preservação
da memória trará reconhecimento também para o sofrimento de quem viveu o mesmo
drama que ela. “Está sendo dificílimo [fazer a vistoria], porque as lembranças
não são só sobre a minha tortura. São sobre as torturas que os companheiros
receberam, são sobre os assassinatos que ocorreram aqui dentro.”
As recordações do prédio também emocionaram
Clóvis de Castro, que permaneceu 30 dias no DOI-Codi. “A qualquer hora da
noite, a gente ouvia barulho de chaves, de um monte de chaves. Era uma
expectativa para saber quem é que ia subir [para a sala de tortura]. E nós
atravessávamos aqui o pátio e subíamos para a sala de tortura”, lembrou Castro.
A visita do jornalista Antônio Carlos Fon
ao prédio, 44 anos depois da prisão, o fez recordar os diferentes tipos de
tortura que sofreu: “Cadeira do dragão, maquininha de choque, pau-de-arara,
socos e pontapés.” Fon disse que se emocionou pelos companheiros que passaram
pelo prédio. "É uma emoção muito grande.”
Após a visita de hoje, os representantes
das entidades de defesa de direitos humanos informaram que será elaborado um
relatório, incluindo um croqui do prédio, que vai ser encaminhado ao Comitê
Interamericano dos Direitos Humanos e às comissões da Verdade do município e do
estado.”
Comentários