“Cabe uma pergunta: se fosse Barack Obama o
chefe de Estado na mesa de cirurgia, eles publicariam a foto? Se fosse Bush? E
se fosse FHC, os jornais brasileiros publicariam? Se fosse Lula, provavelmente
Lula Miranda, Brasill 247
O
jornal El País estampou,
com destaque e espalhafato, em sua primeira página, a fotografia de um homem
entubado numa mesa de cirurgia, que supostamente seria o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez. O homem da foto não era Chávez. O jornal cometeu uma
das barrigas mais infames da história do jornalismo. Mas isso é de menor
relevância. O essencial nessa questão é a grave violação da ética do jornalismo
e o desrespeito aos direitos humanos perpetrados pelo jornal. Esse aspecto,
curiosamente, ninguém aborda ou comenta.
O
homem retratado na foto, em um momento íntimo e de máxima fragilidade, não era
Chávez. E se fosse? Estaria assim justificada a publicação da foto? É
justificável exibir um ser humano daquela maneira, estampado numa foto
gigantesca na primeira página de um grande jornal? Só para se vender algumas
centenas de milhares de jornais? Não, não é. E o editor do jornal e seus donos
sabem disso, mas compram e publicam esse tipo de foto e manchete
sensacionalista por motivos que não tem nada a ver com o bom jornalismo.
A
presidenta Argentina, Cristina Kirchner reagiu com indignação e mandou pelo
Twitter: “Na capa do 'El País' vi uma
foto que, na verdade, não é uma foto. É uma canalhice”. E
disse mais: "Imprensa canalha.
Não há outro adjetivo. É igual em todos os lugares, o 'El País' em Madri, o
'The Sun' em Londres, envolvido em escândalos de corrupção e quem sabe outras
coisas mais. Aqui [Argentina] é o 'Clarín'. Sobre isso não faltam adjetivos,
sobram e são bastante conhecidos".
A
presidenta está correta: isso ocorre “em todos os lugares”. Mas não deveria.
Ocorre aqui no Brasil também. Lembro-lhes o episódio da publicação de uma ficha
falsa da presidenta Dilma Rousseff pelo jornal Folha de S.Paulo.
Por
isso que se deve discutir uma Lei de Meios, uma legislação para a regulação da
mídia, estabelecer um código mínimo de ética, e o que pode e o que não pode ser
publicado (não confundir com censura), para assim proteger o cidadão comum do
poder esmagador da mídia. Pois se fazem isso com um chefe de Estado, imagine o
que não fariam com você, prezado leitor?
Cabe
uma pergunta: se fosse Barack Obama o chefe de Estado na mesa de cirurgia, eles
publicariam a foto? Se fosse Bush? E se fosse FHC, os jornais brasileiros
publicariam? Se fosse Lula, provavelmente. Donde podemos depreender que uns são
mais humanos que outros, uns merecem mais respeito do que outros. Não é
exatamente esse modelo de sociedade que desejamos para “nosotros” – não é mesmo?
A presidenta da Argentina disse ainda mais: "Como será a pessoa
que montou a foto? Será que ela anda pelas ruas de Madri junto com homens e
mulheres normais? E será que o editor escreve editoriais sobre ética, moral e
bons costumes e aponta com o dedo sua próxima vítima?". Kirchner na verdade queria, provavelmente, se
referir ao editor que autorizou a publicação da foto e aos chamados “barões da
mídia”. Mas esses, sabe-se, definitivamente não podem ser considerados “pessoas
normais”. Não podem.”
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