Cláudio Lembo, Terra Magazine / Blog do
Cláudio Lembo
“Aproxima-se a data comemorativa da fundação do colégio de São
Paulo. É a data oficial. Antes, porém, João Ramalho e seus filhos andavam por
estas terras e delas eram titulares por direito de posse.
Vieram, porém, os padres jesuítas com a
missão outorgada pelos reis de Portugal: colonizar as terras recém-descobertas.
Estes, como fizeram por todo sul do continente, deviam implantar missões.
Como se constata das ruínas existentes na
Argentina, Brasil e Paraguai, as misssões consistiam em campos de trabalho,
onde se utilizava da mão-de-obra indígena.
O colégio de São Paulo, dentro desta
doutrina de ocupação, integrava o conjunto de missões jesuíticas distribuídas
em toda área meridional desta América. Escolheram, para início de suas obras, o
dia da conversão de Paulo.
Paulo, apesar de não ter convivido com o
Mestre, passou a ser chamado de apóstolo, pelo trabalho exercido na conversão
dos gentios, isto é, os não judeus.
A figura de Paulo é de uma personalidade
dinâmica e culta. Falava várias línguas. Estudara com importantes rabinos da
sua época. Foi incansável, como demonstram suas viagens por terra e mar.
A sua escolha para patrono do colégio teve
os efeitos desejados pelos fundadores. Os paulistas, habitantes futuros da
região, sempre foram inquietos e nunca deixaram de buscar novas conquistas.
Foram estes paulistas dos primeiros tempos,
que, na companhia dos índios, ainda porque eram mamelucos, estenderam os
limites territoriais do Brasil.
Nunca se abateram. Tornaram-se, em
determinados momentos, extremamente frágeis. A vila perdeu importância.
Amesquinhou-se. Foi, no entanto, capaz de vencer todas as adversidades.
O destino parece ter marcado São Paulo. Quando
se mostrava isolada, mas sempre audaciosa, um acontecimento histórico, em seu
território, a torna símbolo da Independência.
Em seus contrafortes, o Príncipe Pedro
liberta os brasileiros do jugo de Portugal. O espírito libertário dos paulistas
influenciou o príncipe, particularmente pela figura do paulista José Bonifácio.
A independência, proclamada em São Paulo, teve suas
consequências. O futuro imperador apaixona-se por uma paulista de Santos,
Domitila, mais tarde Marquesa de Santos.
Esta mulher com seus dotes e artimanhas
marcou os primeiros anos do Brasil independente. Certamente, sua influência,
junto ao Imperador, levou à instalação da Faculdade de Direito no Largo de São
Francisco.
São Paulo era provinciano em excesso para
receber a primeira escola superior em suas terras. Havia cidades mais aptas a
abrigar uma academia. Basta ler os Anais da Primeira Assembleia Constituinte.
Muitos outros episódios foram marcantes na
trajetória dos paulistas. A chegada dos imigrantes europeus e, posteriormente,
do Oriente Médio mudou sua fisionomia social.
Em momento mais próximo – após a construção
da rodovia Rio-Bahia -, foram os nordestinos que aportaram e, por seu turno,
também contribuíram para alterar os costumes e linguajares paulistas.
Hoje, brasileiros de todas as partes –
junto com bolivianos, peruanos e outros contingentes latino-americanos – formam
uma sociedade única. Sem preconceitos de qualquer espécie.
Em São Paulo, as ideias
fluem e aqueles que têm espírito paulista avançam em todos os segmentos. Forjaram-se,
em São Paulo,
grandes figuras políticas. Notáveis cientistas. Personalidades marcantes.
Tudo isto pode levar a uma falsa euforia. O
realismo paulista, no entanto, aponta para um momento de inação. São Paulo está
exausto. Esgotou-se. Exige figurantes capazes de elevá-lo às alturas de seu
passado. Hoje, São Paulo está fragilizado.”
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