“Explode, enfim, a teoria neoliberal.
Fracassou pela mesma razão evidente: os baixos salários deprimem a demanda, que
deprime o emprego”
Márcia Denser, Congresso em Foco
Ele observa que em 2012, as cem pessoas
mais ricas do mundo enriqueceram 241.000 milhões de dólares a mais. Sua riqueza
se estima agora em 1,9 trilhões de dólares – só um pouco menos que o PIB do
Reino Unido.
Isto não é conseqüência dum acaso, porque o
aumento das fortunas dos super-ricos é resultado direto de medidas políticas! Aqui
vão algumas: 1) a redução das taxas de impostos e da ação fiscal; 2) a negativa
dos Estados em recuperar uma porção dos ingressos procedentes dos minerais e da
terra; 3) a privatização de ativos públicos e a criação de uma economia de
cabines de pedágio; 4) a liberalização salarial e a destruição da negociação
coletiva.
As medidas políticas que fizeram tão ricos
os poderosos globais são aquelas que estão espremendo todos os demais. Não é
isto o que a teoria previa. Friedrich Hayek, Milton Friedman e seus discípulos
– em mil escolas de negócios, o FMI, o Banco Mundial, a OCDE e mais ou menos
todos os governos modernos – argumentaram que quanto menos os Estados
acionassem fiscalmente os ricos, menos defendessem os trabalhadores e
redistribuíssem a riqueza, mais próspero seria todo o mundo. Pois toda tentativa
de reduzir a desigualdade iria ferir a eficiência do mercado, impedindo que a
maré ascendente elevasse todos os barcos.
Seus apóstolos levaram a cabo uma
experiência global durante 30 anos e os resultados estão hoje à vista. É um
fracasso total, salvo para poucos privilegiados.
George diz não acreditar que o crescimento
econômico perpétuo seja sustentável ou desejável, mas se o objetivo é o
crescimento – algo que todo governo diz perseguir –, não se pode organizar
maior desatino no tocante a isso que liberando os super-ricos das restrições
estabelecidas pela democracia.
O relatório anual do ano passado da
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) deveria
ter encomendado o atestado de óbito do modelo neoliberal desenvolvido por
Hayek, Friedman e seus discípulos, pois mostra, inequivocamente, que suas
políticas conseguiram resultados opostos aos que previam. Na medida em que
essas políticas (cortar impostos aos ricos, privatizar ativos do Estado,
desregular o mercado de trabalho, reduzir a seguridade social) começavam a dar
dentadas dos anos 80 em diante, também passaram a cair as taxas de crescimento
e a aumentar o desemprego.
O notável crescimento dos países ricos
durante as décadas de 50, 60 e 70 só foi possível graças à destruição da
riqueza e do poder da elite, como resultado da Depressão e da II Guerra
Mundial. Sua escalada outorgou, aos 99% restante, uma oportunidade sem
precedentes de exigir tudo o que tal crescimento estimulou em redistribuição,
gasto público e seguridade social.
O neoliberalismo foi uma tentativa de
inverter o sentido destas reformas. Generosamente financiado por milionários,
seus defensores tiveram um êxito assustador na área política. Na econômica,
fracassaram.
Em todos os países da OCDE, os impostos se
fizeram mais regressivos: os ricos pagam menos, os pobres pagam mais. O
resultado, sustentavam os neoliberais, seria que aumentariam a eficiência
econômica e o investimento, enriquecendo a todos.
Ocorreu o contrário: enquanto diminuíam os
impostos aos ricos e às empresas, caiu a capacidade de gasto, tanto do Estado
como da população mais pobre, e se contraiu a demanda. O resultado foi que
caíram as taxas de investimento, em sintonia com as expectativas de crescimento
das empresas.
Os neoliberais insistiram também em que a
desigualdade irrestrita em ingressos e os salários flexíveis reduziriam o
desemprego. Mas em todo o mundo rico, tanto a desigualdade quanto o desemprego
dispararam. O recente salto do desemprego na maioria dos países desenvolvidos –
pior que o de qualquer recessão prévia das últimas três décadas – se viu
precedido da cota em proporção dos salários no PIB mais baixa desde a II Guerra
Mundial!
Explode enfim a teoria neoliberal. Fracassou
pela mesma razão evidente: os baixos salários deprimem a demanda, que deprime o
emprego. Conforme os salários estancavam, as pessoas os complementavam,
endividando-se. O aumento da dívida alimentou os bancos desregulados, com as
consequências que todos sabemos.
Quanto maior a desigualdade, diz o relatório
das Nações Unidas, menos estável é a economia e mais reduzidas as taxas de
crescimento. As medidas políticas com as quais os governos neoliberais tratam
de reduzir seu déficit e estimular sua economia são contraproducentes.
A eminente redução no degrau superior do
imposto sobre a renda no Reino Unido (de 50% para 45%) não somará para o Estado
ou a empresa privada, apenas enriquecerá os especuladores que fizeram vir
abaixo a economia: o Goldman Sachs e outros bancos estão agora pensando em como
aproveitar-se disso!
A lei de bem-estar social aprovada pelo
Parlamento britânico na semana passada não ajudará a limpar o déficit ou
estimular o emprego: reduzirá a demanda, suprimindo a recuperação econômica. O
mesmo vale para o teto posto às remunerações do setor público. “Voltar a
aprender algumas antigas lições sobre justiça e participação”, afirma a ONU, “é
a única forma de acabar superando a crise e prosseguir por um caminho de
desenvolvimento econômico sustentável”.
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