Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação
“No meu tempo de jovem, em plena ditadura,
entre as correntes que, clandestinamente, se opunham ao regime militar de
exceção, um grupo delas defendia a tese do “quanto pior melhor”, argumentando
que o endurecimento do regime militar acabaria por provocar reações cada vez
mais fortes dos brasileiros, tudo culminando, assim, com a derrubada dos
usurpadores do poder. A tese era questionada, a meu ver corretamente, por
outros segmentos de contestação ao governo, que entendiam que esse cenário
apenas provocaria um número maior de mortes e torturas, sem a imaginada
contrapartida. Na verdade, em situações desse tipo, a corda sempre costuma
arrebentar do lado mais fraco...
Ironicamente, essa tese é hoje - sem
grandes sutilezas, em contexto totalmente diverso e com propósitos nem um pouco
meritórios - defendida pelo pessoal da direita, que torce por um aumento da
crise mundial, acreditando que esse será um caminho fértil para a retomada do
poder que perderam em nosso país. Basta prestarmos atenção às declarações dos
políticos representados por tucanos e outros bichos, e da mídia que os
amplifica. É um tal de “a não ser que a crise aumente” e coisas do gênero como
indisfarçável condicionante sonhada de uma diminuição do prestígio de Dilma, e
sua consequente derrota eleitoral. Essa turma sabe que os partidos fisiológicos
– esses que, nem de direita nem de esquerda , se atrelam ao poder pelo poder,
qualquer que seja ele – estão sempre dispostos a abandonar o barco se as
tempestades econômicas criarem indesejáveis turbulências.
Tendo como programa a defesa dos interesses
de mercado e da manutenção dos seculares privilégios de classe, a atual
oposição , qual o personagem Urubulino, criado por Chico Anysio, procura sempre
enxergar o lado ruim de qualquer situação positiva que aponte para uma melhora
do quadro social e diminuição das desigualdades. Urubulino era uma figura
soturna que, na profissão de papa-defuntos, disseminava o pessimismo,
alimentando-se dele. É isso que faz esse pessoal, com o uso sistemático do
“mas” como instrumento de desqualificação, como várias vezes já fizemos menção
neste espaço.
Recentemente, quando se comemorava o fato
de que o Brasil alcançava mínimos índices de desemprego, os menores apurados no
pais desde que se colhem tais dados, uma economista-ícone da mídia global, não
podendo deixar de reconhecer o fato, alertava para os perigos de “se diminuírem
os estoques de mão de obra”, assim mesmo, com essa expressão que coisifica os
trabalhadores, dentro do jargão mercadológico.
Os falsos seguidores de Hardi Ha Ha, a
hiena do Hanna Barbera que vivia identificando o azar em todos os dias e que
usava o bordão “Isso não vai dar certo” , anseiam pelo aumento da crise,
valendo-se de suas posições de “especialistas” para plantar o negativo.
Misturam deliberadamente o cenário nacional com os problemas do capitalismo
mundial em sua atual versão comandada por especuladores desatinados e
irresponsáveis que levaram e continuam levando o planeta à beira do abismo.
Tentam levar os brasileiros mal informados a uma identificação incorreta.
Pensam em responsabilizar o governo Dilma se a crise chegar ao nosso país.
Não é possível imaginar postura mais
perversa do que a ostentada por esses brasileiros , que não hesitam em procurar
denegrir os avanços do país e não têm qualquer pudor em aliar-se a interesses
contrários aos do povo. Não falo de um ufanismo vazio, mas de um crescimento da
sociedade, como um todo. Um exemplo recente dessa oposição sabotadora: quando o
Governo acena com a diminuição do valor das contas de luz, as empresas ligadas
aos tucanos – alegando a defesa de interesses restritos de acionistas e
insensíveis ás necessidades do cidadão comum - recusam-se a participar...Penso
que essa é uma postura emblemática do liberalismo.
O fato é que eles anseiam pela carniça de
que se alimentarão, se não tivermos como escapar da crise tão decantada.
Qualquer coisa vale para a queda de Dilma, sua não reeleição.
E têm representantes fiéis na grande mídia
e no grande judiciário... Assim, esperam que a crise, se vier, não os atinja,
confiantes, como sempre, de que os que têm gordura para perder se darão melhor
do que os menos favorecidos (e não vai aqui nenhuma alusão ao milionário
Ronaldo , no seu emagrecimento global) . Afinal, com raras exceções, não tem
sido assim desde que o mundo é mundo?
Elitistas por vocação, almejam pela volta
dos privilégios integrais, que consideram foram encurtados com projetos como a
bolsa-família, no nível mais baixo, ou com o aumento do poder aquisitivo da
nova classe média, que ocupa sem reverência os corredores dos supermercados e
os espaços de condomínios e aeroportos...
Como tudo que essa turma tem defendido e
feito ultimamente, pode ser que estejam dando um novo tiro no pé. Se a crise
vier e gerar o fim dos sonhos de quem acreditou em um país mais justo, não sei
se alguém poderá comemorar. Pode ser que ela seja bem maior do que desejam os
abutres hipócritas. Mas, já que hoje estão defendendo o “quanto pior melhor”,
pode ser que ela provoque, pela retrocesso das conquistas sociais e pela
ausência de amortecedores , uma vigorosa reação daqueles que vierem a ter
podadas as esperanças e expectativas semeadas nos últimos anos... Quem quiser,
que pague para ver...”
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