“No
relatório final da CPI, o jornalista de Veja aparece encomendando grampos
clandestinos e pedindo ajuda para devassar, sem autorização legal, a intimidade
de um cidadão brasileiro
DR. Rosinha, Brasil 247
"Este é o retrato sem retoques de como
se faz um jornalismo sem ética, um jornalismo que, para destruir determinado
alvo ou determinado projeto político, não hesita em violar as leis, a
Constituição e a própria dignidade dos cidadãos."
É dessa forma que o incisivo texto do
relatório final da CPI do Cachoeira define a relação de Policarpo Jr., diretor
da sucursal de Brasília da revista Veja, com o contraventor Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar uma quadrilha com tentáculos
no poder público e na mídia.
O jornalista da CBN, Kennedy Alencar, em
comentário sobre a CPI, disse que o relatório final não apresenta provas contra
Policarpo. Para Alencar, Policarpo não cometeu nada além de "mau
jornalismo". "E mau jornalismo não é crime", afirma.
De fato, não é, embora isso também seja
bastante questionável. Mas o que emerge do relatório final é muito mais do que
"mau jornalismo". Só um corporativismo ancestral pode explicar a
declaração de Kennedy Alencar. No relatório, Policarpo Jr. aparece encomendando
grampos clandestinos e pedindo ajuda para devassar, sem autorização legal, a
intimidade de um cidadão brasileiro (no caso, Zé Dirceu, quando hospedado em um
hotel de Brasília).
Em troca desses "pequenos
favores", Policarpo fazia o papel de assessor de imprensa da organização
chefiada por Cachoeira: publicava o que lhes era conveniente e omitia o resto. Assassinava
reputações e promovia jagunços de colarinho branco, como o ex-senador
Demóstenes Torres, também integrante da organização, a exemplos éticos a serem
seguidos pelas próximas gerações.
Quando a Delta não foi beneficiada por uma
licitação para a pavimentação de uma rodovia federal, Cachoeira acionou
Policarpo para, através de uma reportagem da Veja, "melar" a
licitação. Posteriormente, como os interesses da Delta continuaram a ser
negligenciados, Cachoeira e Policarpo montaram uma ofensiva para derrubar o
ministro dos Transportes – o que acabaram por conseguir.
Em troca, quando lhe interessava, Policarpo
solicitava à organização criminosa que, por exemplo, "levantasse" as
ligações de um deputado. Tudo isso está no relatório final, provado através das
ligações interceptadas pela PF com autorização judicial. Não é "mau jornalismo"
apenas. É crime.
"Não se pode confundir a exigência do
exercício da responsabilidade ética com cerceamento à liberdade de informar. Os
diálogos revelam uma profícua, antiga e bem azeitada parceria entre Carlos
Cachoeira e Policarpo Júnior", diz o relatório.
Policarpo não é o único jornalista
envolvido com a organização de Cachoeira, mas é sem dúvida o que mais fundo foi
neste lodaçal. Durante a CPI, não foi possível convocá-lo para depor, porque
não havia condições políticas para tanto. Agora, porém, as provas falavam alto.
Porém as questões políticas (necessidade de
aprovar o relatório) mais uma vez se interpuseram. Assim como feito em relação
ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi necessário retirar as
menções a Policarpo do documento. O relator entendeu, e eu o compreendo e
defendo, que Policarpo, perto do governador Marconi Perillo, do PSDB de Goiás,
é secundário. Mas, ser secundário não afasta a necessidade de a Polícia Federal
continuar a investigá-lo, e espero que o faça, mesmo com seu nome não constando
no relatório. Afinal, todo suspeito deve ser investigado.”
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