A indústria teve
leve recuperação, puxada
pelo setor de
transformação, que cresceu 1,5%
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Embora nos dois últimos anos o Brasil tenha
tido desempenho aquém de suas possibilidades, o que preocupa do ponto de vista
conjuntural, o economista Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca as mudanças estruturais em curso no
país e critica o que chama de falta de melhor entendimento em algumas análises.
Ele observa que há uma transição, longa, de uma economia de “financeirização da
riqueza” para uma economia mantida pelo investimento produtivo. “Passamos duas
décadas (1980 e 1990) em que a economia não cresceu sustentada pelos
investimentos produtivos, mas pela financeirização, juros altos, levando a um
quadro de regressão social. Havia setores que viviam às custas do assalto ao
Estado”, afirma. “Vai crescer pouco este ano, mas é um crescimento que permite
reduzir a pobreza e a desigualdade de renda.”
Pochmann lembra de decisões tomadas no
início do governo Lula, baseadas na visão de que o Brasil tinha uma economia
com elevada capacidade ociosa. Com Dilma, “estamos pavimentando um caminho de
desenvolvimento sustentável”, avalia o economia. “Só não vê quem não quer.” Ele
cita fatores como o pré-sal, nacionalização de setores produtivos e a política
de concessões, “que não têm nada a ver com as privatizações dos anos 1990”. E diz ver "grande
sintonia entre as decisões cruciais de Lula e Dilma".
Ele lamenta que a comparação com outras
economias não tenha sido feita naquele período, quando havia um ciclo de
expansão mundial. “Em 1980, éramos a oitava economia e em 2000, a 13ª. Na segunda
metade dos anos 1990, até o México ultrapassou o Brasil. E agora estamos
caminhando para ser a quarta economia.”
O economista disse que gostaria de ver mais
“ousadia” do governo, com, por exemplo, mais articulação com os demais países
do continente, especialmente pensando na competição com a China. “O Brasil
poderia ajudar a reorganizar esse espaço, a partir de políticas de caráter
supranacional."
Ao acompanhar as projeções de 4% para o
crescimento da economia em 2013, Pochmann não vê o país com problemas
estruturais, mas em um momento de "desincompatibilização" entre
decisões privadas e públicas. "As decisões de investimento não resultam
imediatamente. O investimento requer decisões mais complexas, significa ampliar
a capacidade de produção", afirma.
Ele vê Lula como um
"estrategista", do ponto de vista da política de juros, que em seu
governo teve redução gradual. Não adiantaria uma queda dramática, diz ele, se
não houvesse alternativas de deslocamento dos recursos "financeirizados"
para a produção, com o Estado criando condições para o investimento. Mudanças,
sublinha, em uma nova realidade política, dentro da democracia e com uma nova
maioria. "O investimento financeiro está perdendo para o investimento
produtivo", reafirma Pochmann. "Estamos voltando a ter capacidade de
fazer política macroeconômica e industrial."
Foto: Rodrigo Paiva / Folhapress
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