“Primeiro, foram os juros. Agora, é a
energia elétrica. E a resistência é parte natural do processo, mas não há
razões para voltar atrás
Leonardo Attuch, Brasil 247
A palavra “stakeholder” surgiu na década de
60, mas passou a ser amplamente difundida só no fim dos anos 80. Era um
trocadilho com “stockholder”, que significa acionista. Durante muito tempo, o
conflito nas economias, ou a boa e velha luta de classes, se deu entre
proprietários e trabalhadores. Foi então que o conceito de “stakeholder” surgiu
para propor um caminho do meio. E a boa gestão econômica passou a ser aquela
que levasse em conta os interesses de todos os agentes sociais: os acionistas,
mas também os empregados, os consumidores e o próprio governo.
De uma semana para cá, no entanto, o Brasil
foi atingido por uma sinistrose. Diante do plano do governo Dilma para reduzir
as contas de luz, as ações da Eletrobras sofreram quedas sucessivas (de 20% na
última quarta-feira 22), acumulando retração de 65% no ano. O bastante para que
fossem escalados diversos porta-vozes para criticar a Medida Provisória 579,
que trata da renovação das concessões das empresas elétricas. No caso específico
da Eletrobras, em linhas gerais, a empresa pretendia ser indenizada em R$ 30
bilhões e o governo oferece a metade disso.
Diante do conflito, as ações caíram. E
diversos analistas passaram a criticar a suposta mão pesada e o excesso de
intervencionismo do Estado na economia. Uma reação previsível, que foi
potencializada, no mercado de capitais, quando a presidente Dilma avisou que
não recuaria um milímetro e não cederia à pressão das elétricas.
Nessa queda de braço, os acionistas – ou
“stockholders” – já falaram. Venderam ações e fizeram com que aqueles que
seguiram o instinto de manada perdessem um bom dinheiro. Como sempre acontece,
em breve, haverá a acomodação natural de mercado, trazendo de volta os preços
dos papéis a níveis mais razoáveis -- o que já começou a ocorrer nesta última
sexta-feira.
No entanto, o que é espantoso nesse embate
é o silêncio dos outros atores sociais, ou “stakeholders”. Onde estão, por
exemplo, os empresários, maiores consumidores de energia, que, durante décadas,
cobraram a redução do Custo Brasil? Ou mesmo as entidades que representam
trabalhadores e consumidores residenciais? Alguns, depois do alerta, começaram
a se mexer, ainda que timidamente.
Nesses primeiros dois anos de governo, a
política econômica de Dilma já ganhou identidade própria. Ela se diferencia do
que foi herdado de governos anteriores pela obstinação em combater deformações
da economia brasileira. Aos poucos, os bodes, que serviam de desculpa para que
investimentos fossem adiados, vêm sendo retirados da sala.
Primeiro, foram os juros. Agora, é a
energia elétrica. E a resistência é parte natural do processo.”
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