O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta quinta-feira, na Índia, o prêmio Indira Gandhi pela Paz, Desarmamento e Desenvolvimento 2010 |
“É comum haver discrepância entre a imagem
de uma liderança em seu país e no resto do mundo.
Nos regimes autoritários, os governantes
tendem a ser mais bem quistos em casa, pois não permitem que seus compatriotas
desgostem deles. Nas democracias, acontece o inverso, e é normal que sejam mais
bem avaliados fora.
Isso costuma decorrer dos alinhamentos
partidários internos, que, para um estrangeiro, são pouco relevantes. Ou vem do
sentimento traduzido pelo aforismo “Ninguém é profeta em sua terra”.
É mais fácil condescender com quem
conhecemos menos.
No Brasil, são raríssimos os políticos que
adquiriram notoriedade fora de nossas fronteiras. Só os brasilianistas conhecem
a vasta maioria, que chegou, no máximo, à América do Sul e aos países de
expressão portuguesa.
Lideranças brasileiras de fato conhecidas
internacionalmente são duas: Fernando Henrique e Lula. Dilma está a caminho de
ser a terceira.
Fora do Brasil, FHC é visto com olhos muito
mais favoráveis que pela maior parte dos brasileiros. É evidente que tem
admiradores no País, mas em proporção substancialmente menor que o daqueles que
não gostam dele.
Tem, no entanto, reconhecimento internacional,
que se traduz em homenagens, prêmios e convites para integrar colegiados de
notáveis.
Sempre que é saudado no exterior, nossa
mídia e os “formadores de opinião” de plantão registram com destaque o
acontecimento, considerando-o natural e como a compreensível celebração de suas
virtudes.
Acham injusta a implicância da maioria dos
brasileiros para com ele.
Lula é um caso à parte. A começar por ser
admirado dentro e fora do país.
Como mostram as pesquisas, os números de
sua popularidade são únicos em nossa história. Foi um governante com aprovação
recorde em todos os segmentos relevantes da sociedade, em termos regionais e
socioeconômicos.
Acaba de colher uma vitória eleitoral
importante, com a eleição de Fernando Haddad, a quem indicou pessoalmente e por
quem trabalhou. Feito só inferior ao desafio que era eleger Dilma em 2010.
No resto do mundo, é figura amplamente
respeitada, à esquerda e à direita, por gregos e troianos. Já recebeu uma
impressionante quantidade de honrarias.
Esta semana, foi-lhe entregue o prêmio
Indira Gandhi, o mais importante da Índia, por sua contribuição à paz, ao
desarmamento e ao desenvolvimento. Na cerimônia, o presidente do país ressaltou
que Lula o merecia por defender os mesmos princípios que Indira e Mahatma
Gandhi. O que representa, para eles, associá-lo à mais ilustre companhia
possível.
Quem conhece a imagem que Lula tem quase
consensualmente no Brasil e no estrangeiro deve ficar perplexo.
Será que todo mundo – literalmente – está
errado e a direita brasileira certa? Só sua imprensa, seus porta-vozes e
representantes sabem “quem é o verdadeiro Lula”? O resto do planeta foi
ludibriado pelas artimanhas do petista?
É até engraçado ouvir o que dizem alguns
expoentes da direita tupiniquim, quantos adjetivos grosseiros são capazes de
encontrar para qualificar uma pessoa que o presidente da Índia (que, supõe-se,
nada tem de “lulopetista”) coloca ao lado do Mahatma.
Só pode ser porque não conhece o que pensa
aquele fulaninho, um dos tais que sabem “a verdade sobre Lula”.
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