Camila Maciel, Agência Brasil
“A Comissão Nacional da Verdade fez hoje
(8) a primeira reunião do grupo de trabalho que vai investigar o papel das
igrejas na ditadura militar. Durante o encontro, especialistas e membros da
comissão analisaram estudos acadêmicos existentes sobre o tema. “Estamos
fazendo um primeiro balanço do estado da arte com especialistas e teremos que
definir prioridades, porque não podemos tratar de todos os temas que envolvem
essa questão”, apontou o professor Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador do grupo.
Entre os casos que devem ser analisados
está o do jornalista e ex-preso político Anivaldo Pereira Padilha. Ele foi
delatado, no início da década de 1970, pelo pastor e pelo bispo da igreja da
qual fazia parte. “Fui denunciado por minha atuação dentro da própria igreja.
Na época, ocupava os cargos de diretor do Departamento Nacional de Juventude e
editor de uma revista da igreja dirigida a esse público”, explicou. Padilha foi
torturado e exilado, tendo retornado ao Brasil somente após a Lei de Anistia,
em 1979.
A criação do grupo foi proposta pela
sociedade civil em audiências públicas promovidas pela comissão, informou a
assessoria de imprensa do órgão. “As igrejas são instituições da maior
relevância na sociedade e é evidente que, ao lado das Forças Armadas, do
empresariado, dos organismos do Estado, ela deve ser investigada”, reforçou
Paulo Sérgio Pinheiro. Ele ressaltou que serão igualmente analisados fatos
ligados à colaboração das igrejas ao regime e também relacionados à resistência.
“É importante resgatar essa memória para
compreender melhor o presente e o futuro e para que essas instituições deem
conta do quão nefasto isso foi para a sociedade brasileira em termos de atraso
para a construção de uma sociedade democrática. O não esclarecimento desses
crimes contribui para que a tortura continue a existir na sociedade
brasileira”, avaliou Anivaldo Padilha.
A comissão ouvirá testemunhas e irá
analisar documentos nos próximos meses. O material servirá de base para um
relatório, com primeira versão prevista para janeiro de 2013. “Não vamos
privilegiar nenhuma igreja. Isso vai ser mapeado pela documentação e pelos
casos que nós vamos levantar”, disse o coordenador.
A comissão é formada por pesquisadores que
estudam diversas igrejas, como a metodista, presbiteriana, luterana, batista e
Católica.
Para Anivaldo Padilha, que atualmente é
líder ecumênico metodista, alguns setores das igrejas não devem reagir bem às
investigações, mas descarta empecilhos às pesquisas. “Setores mais
conservadores ou que são remanescentes de grupos que apoiaram a ditadura, esses
setores não vão estar muito contentes”, avaliou.
O coordenador do grupo, no entanto, destaca
que não houve manifestação formal de nenhum grupo religioso."
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