Danilo Carneiro é
um dos sobreviventes
da guerrilha do
Araguaia, no Pará, onde
a CNV realiza
audiência pública neste
fim de semana
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A Comissão Nacional da Verdade (CNV)
reservará o final do ano para elaborar um balanço preliminar das atividades
realizadas em seus primeiros seis meses de trabalho. Um relatório parcial deve
ser divulgado ainda em novembro, provavelmente no dia 26, durante evento em
Brasília, onde está sediada a CNV. Amparado pela Lei Federal 12.528/2011, o
grupo foi empossado em 16 de maio pela presidenta Dilma Rousseff com a
incumbência de investigar, em dois anos, as violações aos direitos humanos
cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura (1964-1988).
A sistematização deve postergar algumas
atividades da Comissão. Um dos eventos que deve ocorrer apenas em 2013 é o
seminário com jornalistas sobre a Operação Condor, que articulou os órgãos da
repressão no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Bolívia, e orquestrou
sequestros e assassinatos conjuntos. "Os profissionais de imprensa têm
muito a informar sobre essa questão", revela Rosa Cardoso, membro da CNV e
responsável por conduzir os trabalhos sobre o convênio secreto das ditaduras
sul-americanas. "Vamos envolver também a comunidade acadêmica e a
universidade nesse trabalho."
Outras atividades, porém, permanecem na
agenda. Hoje (16), a psicanalista Maria Rita Kehl, membro da CNV que conduz os
trabalhos sobre a repressão a camponeses e indígenas, fará uma viagem de três
dias à região do Araguaia, no Pará. A comissionada visitará a terra indígena
Sororó, foco da guerrilha nos anos 1960 e 1970, e participará de audiência com
a Comissão da Verdade Suruí, criada pelo povo Aikewara. A agenda prevê ainda
reuniões na cidade de Marabá, em parceria com o Comitê Paraense da Verdade, e o
depoimento de três ex-soldados que atuaram na repressão ao movimento armado que
lutou contra a ditadura no norte do país
.
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Em conversa com a RBA, Maria Rita Kehl está otimista quanto às investigações
relacionadas aos abusos cometidas pelos agentes do Estado contra as populações
indígenas. "Talvez não haja tanta falta de documentação, porque o Conselho
Indígena Missionário (Cimi), ligado à igreja, foi muito ativo aí e tem muitos
relatórios", prevê a psicanalista. "Talvez tenham desaparecido menos
documentos sobre os indígenas do que em relação aos presos e desaparecidos nas
áreas urbanas."
Maria Rita diz que se surpreendeu com a
quantidade de violações contra as tribos brasileiras durante o regime,
sobretudo na região amazônica. "As mais graves se deram no governo Ernesto
Geisel (1974-1979), durante a política de integração da Amazônia, com a
abertura de rodovias e concessão de terras para garimpagem", lembra.
"Isso significou a dizimação de algumas tribos que estavam no caminho e
resistiam a perder suas terras."
A membro da CNV afirma que o balanço que
tem a fazer sobre as investigações da subcomissão indígena é "bastante
preliminar", mas cita algum avanço no caso dos Waimiri-Atraori, no
Araguaia, "que foram torturados para ajudar a encontrar os guerrilheiros".
Ainda há outros que precisam de mais atenção: "por exemplo, os Arara, na
região entre Pará e Maranhão, que foram sendo empurrados cada vez mais pra
longe porque o governo cedeu suas terras para uma empresa fruticultora
americana", pontua. "Há muitos casos. Precisamos investigar mais pra
falar."
Foto: Folhapress
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