Lisandra Paraguassu, O Estado de S. Paulo
Vinte e sete anos depois do fim da
ditadura militar, parte da nova classe média brasileira parece preferir um
governo que funcione às liberdades civis. Uma pesquisa feita pelo instituto
Data Popular, que investiga o pensamento desse grupo social que aumentou
significativamente nos últimos dez anos, mostrou que 51% dos entrevistados
concordam com a frase: "Prefiro uma ditadura competente do que uma
democracia incompetente".
Ao mesmo tempo, boa parte dos entrevistados
acha que seu voto tem poder: 67% deles concordam com a afirmação "o meu
voto pode melhorar a política brasileira", uma contradição com a
possibilidade de aceitar um sistema em que o voto não tem validade nenhuma.
"Esse é um ponto que realmente vai
chamar muita atenção. Mas o que vimos na pesquisa não é um desapego à
democracia. A maior evidência disso é a importância que os entrevistados dão ao
voto", afirma o diretor do Data Popular, Renato Meirelles. "Pode-se dizer
que é mais uma cobrança pela ineficiência do Estado do que um saudosismo da ditadura."
Ainda usuária, em sua maioria, do sistema
público, especialmente em saúde e educação, boa parte dessa classe média é
bastante crítica ao serviço oferecido pelo Estado e começa a cobrar por
melhorias no atendimento.
Insatisfação. De acordo com a pesquisa, que
foi finalizada na semana passada, 78% da classe média está insatisfeita com a
qualidade dos serviços no sistema público de saúde e 60% acham ruins as escolas
de ensino fundamental e médio. Apenas o ensino superior não é tão criticado:
42% o acham adequado e 8% acham alta a qualidade.
"Uma coisa é o Estado quando o cidadão
não paga imposto. Agora, com pleno emprego, o imposto é retido na fonte e a
pessoa passa a ser um consumidor do serviço público, que não é gratuito, é
pago. Não é mais um favor, é um direito", analisa Meirelles.
Ao mesmo tempo, esse cidadão da nova classe
média não tem dúvidas de que o dever do Estado é oferecer educação e saúde de
qualidade: mais de 70% dos entrevistados defendem isso.
A pesquisa, feita dentro do projeto Vozes
da Classe Média, ouviu 2 mil pessoas com renda familiar per capita mensal entre
R$ 1.540 e R$ 2.813, em 56 cidades brasileiras. Os números, recém-fechados,
serão postos à disposição da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República que, hoje, estuda o perfil dessa nova classe média.”
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