Acordo improvável


Imprevisível. Para Sarney e Floriano,
a vice deu sorte. Exceções
Mauricio Dias, CartaCapital

“O desfecho das eleições municipais deixou a oposição e a mídia conservadora num frisson incontrolável, a partir de uma leitura muito particular do resultado das urnas. Interpretações rudimentares de vitórias e derrotas os levaram, com dois anos de antecipação, a tentar consolidar para a eleição presidencial de 2014 a aliança entre Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

É a dupla que julgam capaz de evitar a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. A fórmula para produzir esse remédio eleitoral milagroso é dificílima de ser composta. Exigirá muita perícia na manipulação e a superação de pré-requisitos quase insuperáveis.

O mais elementar deles vem da pergunta: quem estaria, por exemplo, na cabeça da chapa? Veterano aspirante oposicionista à Presidência, Aécio Neves teria a preferência. Não só por representar Minas Gerais, o terceiro maior colégio eleitoral do País (15 milhões de votos), mas também por ser do PSDB, partido de maior musculatura eleitoral que o PSB de Campos, e capaz de expressar mais a oposição.

Aos 52 anos, embora razoavelmente jovem para o exercício da política, Aécio tem uma atração fatal pelo comportamento de políticos mais velhos. Salvo um ou outro momento, é especialista em disfarçar o que pensa. A malemolência torna-o um exímio malabarista na hora das afirmações mais graves.
Eduardo Campos, 47 anos, governador de Pernambuco, representaria, em princípio, o que parece ser o mantra da política no momento: renovação. Mas a força eleitoral de Pernambuco é reduzida.

Para ele, seria incômodo demais deixar a base do governo para, pouco depois, combater o governo em campanha eleitoral pelo poder presidencial. Campos tem um compromisso político com Lula até 2014. “Mas, se o cavalo passar encilhado, ele monta”, diz um socialista graduado, próximo ao governador pernambucano. “O PSDB está desesperado. Nós não estamos. Podemos sobreviver sem o poder. Eles dependem do poder para sobreviver. Temos tempo, os tucanos não. Assim é mais provável, se houver essa aliança, que o vice seja o Aécio.”

Qual seria o futuro político do vice, com a possibilidade da reeleição, se a chapa for vitoriosa?
Um mergulho na história republicana mostra que a continuidade da trajetória de um vice-presidente depende exclusivamente do imprevisível. Uma ruptura política ou uma tragédia. Fora isso, a Vice-Presidência tem sido sempre o último patamar na carreira.


Floriano Peixoto só teve futuro porque o marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891) renunciou. O vice Café Filho superou uma crise política para assumir após o suicídio de Getúlio Vargas (1951-1954). Mais grave foi a situação do vice-presidente João Goulart. Só tomou posse após cruzar momentos dramáticos no País. Foi um clima de guerra civil, após a renúncia de Jânio Quadros (1961), com apenas sete meses de governo.

Goulart foi apeado do poder pelos militares em 1964. A sina que persegue os vices não parou aí. O segundo general-presidente, Costa e Silva (1967-1969), vítima de uma trombose não foi sucedido pelo vice, Pedro Aleixo, o enfeite civil da ditadura. Vetado, tomou posse uma junta militar. Após os militares, o vice José Sarney assumiu com a morte de Tancredo Neves, ocorrida às vésperas da posse. Finalmente, Itamar Franco ascendeu porque Fernando Collor (1990-1992) sofreu impeachment.

No folclore político nacional, sempre se disse que, no imaginário do vice, a gripe do presidente pode se transformar em grave pneumonia. Mas não será assim, é claro, para gentis cavalheiros como Aécio Neves e Eduardo Campos.”

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