Processos contra
os 40 réus do
chamado mensalão
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“Ainda há quem duvide quando ouve que a
mídia brasileira é partidarizada. Que tem posição política e a defende com
unhas e dentes. Por opção ideológica e preferência político-partidária, ela é
contra o PT. Desaprova os dois presidentes da República eleitos pelo partido e
seus governos. Discorda, em princípio, do que dizem e fazem seus militantes e
dirigentes.
A chamada “grande imprensa” é formada por
basicamente quatro grupos empresariais. Juntos, possuem um vasto conglomerado
de negócios e atuam em todos os segmentos da indústria da comunicação. Têm um
grau de hegemonia no mercado brasileiro de entretenimento e informação incomum
no resto do mundo. É coisa demais na mão de gente de menos.
Afirmar que ela faz oposição ao PT e a seus
governos não é uma denúncia vazia, uma “conversa de petista”. Ficou famosa,
pela sinceridade, a declaração da presidente da Associação Nacional de Jornais
(ANJ) e diretora-superintendente do Grupo Folha, Judith Brito, segundo quem
“(…) os meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista
deste país, uma vez que a oposição está profundamente fragilizada”.
Disse isso em março de 2010 e nunca se
retratou ou foi desautorizada por seus pares ou empregadores. Pelo contrário.
Cinco meses depois, foi reconduzida, “por aclamação”, à presidência da ANJ.
Supõe-se, portanto, que suas palavras permanecem válidas e continuam a
expressar o que ela e os seus pensam.
O modelo implícito no diagnóstico é o mesmo que leva o justiceiro para a rua. Inconformado com a ideia de que os mecanismos legais são inadequados, pega o porrete e vai à luta, pois acha que “as coisas não podem ficar como estão”.
Se os políticos do PSDB, DEM, PPS e adjacências não conseguem fazer oposição ao PT, a mídia toma o lugar. Proclama-se titular da “posição oposicionista deste país”, ainda que não tenha voto ou mandato.
Enquanto o que estava em jogo era apenas a impaciência da mídia com a democracia, nenhum problema muito grave. Por mais que seus editorialistas e comentaristas se esmerassem em novas adjetivações contra o “lulopetismo”, pouco podiam fazer.
Como dizia o imortal Ibrahim Sued, “os cães ladram e a caravana passa”, entendendo-se por caravana Lula, Dilma, o PT e sua ampla base na sociedade, formada por milhões de simpatizantes e eleitores. Aí veio o julgamento do “mensalão”. A esta altura, devem ser poucos os que ainda acreditam que a cúpula do Judiciário é apolítica. Os que continuam a crer que o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma corte de decisão isenta e razoável.
Desde o início do ano, seus integrantes foram pródigos em declarações e atitudes inconvenientes. Envolveram-se em quizílias internas e discussões públicas. Mostraram o quanto gostavam da notoriedade que a aproximação do julgamento favorecia.
Parece que os ministros do STF são como Judith Brito: inquietos com a falta de ação dos que têm a prerrogativa legítima, acharam que “precisavam fazer alguma coisa”. Resolveram realizar, por conta própria, a reforma da política.
O STF não é o lugar para consertá-la e “limpá-la”, como gostam de dizer alguns ministros, em péssima alusão a noções de higienismo social. Mas o mais grave é a intencionalidade política da “reforma” a que se propuseram.
A mídia e o STF estabeleceram uma parceria. Uma pauta o outro, que fornece à primeira novos argumentos. Vão se alimentando reciprocamente, como se compartilhassem as mesmas intenções. A pretexto de “sanear as instituições”, o que desejam é atingir adversários.
O julgamento do mensalão é tão imparcial e equilibrado quanto a cobertura que dele faz a “grande imprensa”. Ela se apresenta como objetiva, ele como neutro. Ambos são, no entanto, essencialmente políticos.
As velhas raposas do jornalismo brasiliense
já viram mil vezes casos como o do “mensalão”, mas se fingem escandalizadas.
Vivendo durante anos na intimidade do poder, a maioria dos ministros presenciou
calada esquemas para ganhar mais um ano de governo ou uma reeleição, mas agora
fica ruborizada.
O que ninguém imaginava era quão simples seria para a mídia
ter o Supremo a seu lado. Bastavam algumas capas de revista.
E agora que se descobriram aliados, o que
mais vão fazer juntos?”
Foto: Pozzebom/ABr
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