O candidato José
Serra,
após a derrota nas
urnas
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"O filme já foi visto antes. Ao fim da
campanha, após um resultado adverso nas urnas, toma forma no PSDB o discurso
pela renovação de seus quadros. Foi o que aconteceu em 2006, quando o tucano
Geraldo Alckmin, hoje governador de São Paulo, foi derrotado pelo petista Luiz
Inácio Lula da Silva na eleição presidencial. Desde então, afirma Celso Roma,
cientista político pela USP e especialista em partidos políticos e eleições, o
processo de renovação foi colocado na geladeira para ser repetido, seis anos
depois, após o revés sofrido agora por José Serra na corrida pela prefeitura de
São Paulo. “As palavras não se transformaram em ações”, diz Roma
Para ele, a legenda está tendo dificuldade
em projetar novas lideranças e não se mostra capaz de ouvir ou criar pontes com
a juventude do PSDB. Roma afirma que o partido deveria seguir o exemplo dos
rivais petistas, que passou por um processo de renovação induzido por
circunstâncias adversas, como o escândalo do “mensalão”, hoje julgado pelo
Supremo Tribunal Federal. “Isso forçou o partido a apresentar candidatos novos
ou desvinculados do escândalo de corrupção. Onde o PT insistiu em velhas
lideranças, perdeu”.
O especialista cita, entre os motivos da
derrota de Serra em São Paulo,
o desgaste da atual gestão, a omissão da campanha na periferia, onde Fernando
Haddad recebeu mais votos, e a incapacidade de se livrar do rótulo anti-pobre
colado nele pelos adversários. Ele critica a estratégia tucana de levar a
homofobia para o centro do debate mas minimiza os efeitos da aproximação com
lideranças polêmicas como o pastor Silas Malafaia. “Tanto Haddad quanto Serra
receberam apoio de personalidades polêmicas ou implicadas em escândalos de
corrupção.”
Roma faz projeções sobre o futuro de Serra
e da oposição e se mostra descrente sobre uma possível guinada do hoje aliado
PSB de Eduardo Campos, governador de Pernambuco.
Celso Roma: O candidato derrotado do PSDB, José Serra, concorreu sob condições adversas. Além de ser rejeitado por mais de um terço dos eleitores, Serra defendeu a continuidade de uma administração reprovada por mais de dois terços dos paulistanos. Em contraste, o candidato vitorioso do PT, Fernando Haddad, apresentou com antecedência um programa de governo, propondo mudança de gestão e novos projetos para a cidade.
CC: Quem perdeu mais na disputa, o PSDB ou José Serra?
CR: Ambos saíram derrotados da eleição em São Paulo. O candidato amargou outra derrota nas urnas. O partido perdeu a cidade que lhe conferia poder, prestígio e visibilidade.
CC: Quais foram os erros da campanha tucana?
CR: Na disputa do segundo turno da eleição, Serra concentrou seus compromissos no centro expandido da cidade, onde ele havia sido vitorioso. Além de ter feito menos eventos que o seu adversário, o candidato do PSDB visitou poucos bairros da periferia. Haddad fez carreatas e promoveu encontros inclusive nos redutos do PSDB, onde conseguiu diminuir a desvantagem em relação ao adversário no 1º turno.
CC: Isso ajudou a campanha do PT a
apresentar Serra, durante a campanha, como um candidato anti-pobre? Essa imagem
pegou?
CR: Nos debates da televisão, José Serra não conseguiu responder de uma forma satisfatória às questões levantadas por Fernando Haddad sobre pobreza e inclusão social. No programa do Serra, faltou destacar uma seção com projetos exclusivos para a população carente. Durante a campanha, faltou contato com os representantes de bairros da periferia. O contato com os moradores poderia reverter a imagem de Serra como candidato dos ricos, transmitida e reforçada pelo PT.”
Foto: Gabriel Bonis
Entrevista Completa, :AQUI::
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