Marcelo Carneiro da Cunha, Terra Magazine /
Zagueiro
“Estava cá pensando sobre a seleção do Mano
e sua turnê pelos Estados Unidos, onde já perdeu para o México e pode virar
carne moída diante da Argentina. Esse time produz uma mescla de pânico com
desânimo, caros leitores, assim como todos, todos, desde 1982.
E no caminho desde o pânico, que pelo menos
agita, e o desânimo, que traz sono, lembrei de meus tempos nos Estados Unidos,
há tantos anos atrás que o calendário ainda não era gregoriano. Tempos em que
havia a distância, estimados leitores. Tempos em que ainda existia a saudade.
Saudade é aquilo que sentimos pela seleção
do tri, caros leitores. Saudade era aquela que o Caymmi sentia da Bahia.
Saudade era o que sentia um imigrante, antepassado seu, meu, do senhor aqui ao
lado. Aquele ser que veio lá de muito longe, por vontade própria ou trazido à
força, deixou tudo para trás de um jeito absoluto. Aquelas pessoas deixavam o
porto de seus países de origem para nunca mais voltar, nunca mais ver, nunca
mais ouvir.
Quando chegavam aqui, depois de uma
travessia do Atlântico em tempos pré-Dramin, era para sempre, sem volta. Cartas
deviam levar meses para ir, meses para voltar, se tudo desse certo. O passado
era muito longe, caros leitores, e isso sim produz saudade, em estado bruto e
desconhecido por nós.
Eu já sou um sujeito nascido aqui mesmo e
no século 20. Já nasci em um mundo que contava com anestesia no dentista e
telefone. Dores absolutas já eram coisas do passado, assim como afastamentos
definitivos.
E ainda assim, havia a maldita saudade, por
toda parte.
Quando fui estudar nos Estados Unidos, eu
tinha direito a uma ligação por mês, por cinco minutos, a um custo
astronômico. Não dava sequer pra explicar pra mãe onde estava doendo, não dava
sequer para saber de todos os irmãos, era preciso dividir a turma e falar com
ou sobre dois, no máximo.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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