Menalton Braff, Revista Bula
“Alguém pode me dizer qual é a utilidade do
amor? Até hoje ninguém me convenceu. Ele, o amor, é inteiramente inútil. Como a
vida. Não tem utilidade. Ter filhos, amigos, tudo tão inútil como a arte. Uma
ideia, esta da inutilidade, que me parece ter comparecido em algum escrito de
Kant. Na Crítica da Razão Prática? Não sei. E essa ignorância em assuntos
filosóficos me dá coceira no corpo todo. Bem, se não foi o Kant alguém deve ter
dito isso, e juro que não fui o inventor.
Penso nessas coisas quando tenho de ouvir
umas pessoas dizendo que literatura é uma coisa inútil. Sou obrigado a
concordar. Se amigo e filho têm utilidade não são mais amigo e filho, passando
à categoria de instrumento. Enfim, servem para alguma coisa.
Apesar disso, continuo lendo, e cada vez
com maior paixão. E continuo vivo nem sei pra quê, pois se a vida também é
inútil. Essa é uma afirmação perigosa, em alguns sentidos letal, pois há
pessoas que não se interessam por coisa alguma que não tenha utilidade.
Pois bem, nem todos tiveram o prazer de ler
“Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto. Aquele final fabuloso, em
que o mestre carpina não consegue justificar por que continuar vivo. “.../mas
se responder não pude/à pergunta que fazia,/ela, a vida, a respondeu/ com sua
presença viva.” Tinha acabado de nascer um menino.”
Artigo Completo, ::Aqui::
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