Eberth Vêncio, Revista Bula
“Quando se tem de cara a morte, o ser
humano é capaz de comportamentos os mais extremos, como esmagar a garganta de
um agressor potencial, rir em sinal de desespero, desfalecer, ou tentar parar
as balas com as próprias mãos.
Acostumados ao serviço digno e sujo de
verificar carniças humanas, os peritos criminais bem sabem como são
corriqueiras as mãos destrocadas por projéteis nas vítimas de execução, à
queima roupa, por arma de fogo. Quanta miséria... É muita ingenuidade da vítima
crer na compaixão extemporânea de um facínora ou na eficácia de um escudo tão
vulnerável quanto as próprias mãos, feitas de pele e ossículos.
Dizer o que se oferece dizível, repetir
apenas o repetível, propalar comentários insensatos parece ser uma das normas
àquelas pessoas tomadas pelo trauma psíquico e pela profunda crise existencial.
No jornal que leio há uma entrevista emocionada de um detetive que escapara por
pouco de morrer na queda de um helicóptero. O acidente, contudo, ceifou a vida
de sete dos seus desafortunados companheiros de trabalho.
“Deus me tirou daquela aeronave na noite de
ontem”, ele comemorou com os repórteres, ao justificar que não embarcara com os
demais por conta de “incidentes de última hora”, alguma coisa do tipo “terminar
minha declaração de imposto de renda” ou “deixar o carro da esposa na revisão
na manhã seguinte“.
Baseado nesta assertiva de quem acaba de
escapulir de um mergulho na imensidão do nada, deduz-se que o Mentor do
Universo selecionara, colocara outras tantas pessoas desavisadas no interior daquela
máquina mortífera, por puro capricho, por simples merecimento das vítimas
escolhidas a dedo, ou por meio de um planejamento morticida-ressuscitatório
absolutamente incompreensível à mente humana, para não dizer inaceitável. Ora,
declarações como aquelas são só coisas impensadas que dizemos a esmo, como “eu
te amarei para sempre, até que a morte nos separe”, por exemplo.”
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