Eberth Vêncio, Revista Bula
"Abadiânia é um lugarejo situado entre
Goiânia e Brasília. Certa vez, deixei secar o radiador e acabei fundindo o
motor de um Del Rey velho ali nas imediações abadianienses. Com muito custo e
vapor, consegui conduzir o automóvel até uma pequena oficina cujo mecânico não
me lembro mais o nome.
Recordo apenas do susto que levei ao
retornar dias mais tarde e me deparar com o motor absolutamente desmontado na garagem
da casa do mecânico, porca a porca, arruela a arruela. Gelei a espinha e
pensei: “Danou-se! Este sujeito jamais conseguirá montar este motor
novamente...”.
Mas o homem não somente montou de volta o
retificado motor Ford, como o deixou supimpa, tinindo, uma beleza mesmo. Na
minha visão, ao seu modo, o mecânico operou um verdadeiro milagre. Para mim,
ele foi uma espécie de João de Deus dos pistões, bielas e virabrequins.
Sim. Pois é exatamente isto que as pessoas
buscam ao visitarem o médium João de Deus em Abadiânia: uma saída, um jeito, um
milagre. “Dá um jeitinho pra mim”, foi o que eu pedi também ao mecânico
milagreiro. E ele deu. Rodei mais dois anos, até o motor quebrar de vez. Vocês
sabem: chega uma hora que os motores, assim como as pessoas, quebram, falem,
terminam.
Lembro-me bem que Brasilmar também operou
um baita milagre. Consequência de efeitos danosos do uso inadvertido de
talidomida durante a gravidez de sua mãe, o garoto Brasilmar nasceu com o
membro superior direito encurtado, ou seja, onde deveria haver um braço, um
antebraço e uma mão, havia um esdrúxulo apêndice pendurado no ombro, uma
espécie de aleijão que não impedia o menino Brasilmar de catar, e bem, no gol
do time da escola.
Naquela época, ninguém falava em bullying. Aliás, este
termo alienígena sequer havia invadido o território brasileiro. Todos chamavam
Brasilmar de “Mãozinha”, apelido que não o incomodava de forma nenhuma. Era o
jogo final de um campeonato de futebol de salão entre escolas católicas. Ginásio
lotado. A torcida em
alvoroço. Pênalti contra a gente. Brasilmar tomou posição no
meio do gol, balançou o corpo pra lá, pra cá e... pimba! Defendeu com a cabeça
o tirambaço desferido pelo atacante do time adversário. Fomos campeões graças
ao milagre de Brasilmar “Mãozinha”.
Artigo Completo, ::Aqui::
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